segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Sonhos voltam a rondar. Aproximam-se, farejam e fogem. Sou eu que os assusto. Eu e o meu medo de doer.
Em breve, vão se deixar tocar. Meu Deus, como desejo esse dia.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Terremoto no Canadá

E eu embarcando para lá. Parece que busco as catástrofes, como se a vida harmônica não tivesse sua graça. Desafios, paixão. Tudo o que vem rápido passa voando e isso me excita. Não posso me queixar de monotonia. Amo a vida e sou tentada pela morte.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Blecaute interior

Subo a pé os sete andares até meu apartamento. Corro jamaicanamente das lembranças inquietantes que o blecaute na cidade me causa, mas sou ultrapassada e bloqueada por elas. Vejo-me na mesma cena, em outra época. O calor, a falta de luz, a escada, a falta de ar, as elucubrações, a falta de você. Voltava da rua sozinha, enquanto um dilúvio escurecia e encharcava as ruas. Havíamos combinado assistir ao show da Rita Lee. Você não apareceu. Da porta do Canecão, debaixo de chuva, liguei enlouquecida para seu celular umas 380 vezes. Enquanto isso, já ia me imaginando lá dentro, esgoelando-me junto com a ruiva nos versos "juro que não vai doer se um dia eu roubar, o seu anel de brilhante, afinal de contas dei meu coração, e você pôs na estante...". Blergh. Graças ao breu total, a apresentação foi impossível naquele sábado.
Coração apertado, lágrimas misturadas à chuva, me arrastei miseravelmente até minha casa com dois ingressos válidos para o dia seguinte e dormi o sono pesado que nos defende da dor.
Você me ligou de madrugada. Não atendi. De manhã cedo. Suspirei um alô. Havia pedidos de desculpas na voz ainda embriagada, "foi meu apagão, amor", e palavras apaixonadas. Sim, eu ainda o queria por mais um breve tempo.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Emoção

Noite de 16 de abril de 1994. O telefone tocou ao lado da cama. Era meu amigo Ivan com um convite quase irrecusável: "Silvia, vambora ver o Chico Science no Circo Voador".
Fiquei tentada. "André, o Ivan está chamando a gente para ir ao Circo". Olhei para a minha barriga de 42 semanas de gravidez. "Acho melhor não, né?".
Declinamos, tristemente. Na madrugada do dia 17, comecei a sentir contrações e Laura nasceu.
No último sábado, 15 anos e sete meses depois, o Nação Zumbi, sem o Chico Science, morto em 1997, voltou ao Circo para show com as músicas do disco Da Lama ao Caos, o mesmo que eu havia perdido por causa do fim da gravidez. Dessa vez, estava lá misturada à massa que ocupou a lona. Calor congolês. Pulei, levei pisada, suei. Adolescente eu, adolescente tu. Jorge Du Peixe e Lucio Maia me arrepiaram. Uma cerveja antes do almoço é muito bom pra ficar pensando melhor.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Lua do Custódio Coimbra

Pequeno conto

Felipa acordou com sede de Antonio. Da última vez que se encontraram, ela o apertou como ao último tubo de pasta de dente da casa, já vazio, obcecada por retirar dele o que era necessário, mas sem esperança. Preferia não saber quantos dias havia se passado desde o abraço, porque tempo de ausência contabilizado é dor certa.
Vestiu-se e partiu para o trabalho impregnada de perfume seu - que tinha sido dele, pensou.
Sonhava Antonio na rua ensolarada e nem percebeu o impacto. Quando um anjo lhe deu colo, Felipa conseguiu enxergar seu amor entre o Cristo e o mar. Os que a viram depois contam só se lembrarem do sorriso no chão.

domingo, 1 de novembro de 2009

Vozes do além

Não sei não, mas parece que o mundo está cheio de esquizofrênicos. É um tal de ouvir coisas que nunca foram ditas que dá até medo. Em uma semana, duas amigas e um amigo vieram contar em lamúria que as pessoas com quem se relacionavam tiraram o corpo fora com a desculpa de que "as expectativas eram diferentes". Como já ouvi essa ladainha, perguntei a eles se haviam explicitado aos parceiros o que queriam nos respectivos envolvimentos. Nada, foi a resposta de todos. Nunca falaram em namoro, juntar trapinhos, filhos. Apenas pretendiam "viver bons momentos". Foi aí que descobri que essa expressão aspeada aparece no dicionário dos assustados como sinônimo de "compromisso", palavra realmente forte para quem está indeciso sobre seus caminhos. Bom, não vou tentar entender a cabeça alheia, seria enorme presunção, mas o que me chamou a atenção nos casos contados é que em todos havia muito desejo entre os casais. Lamentável saber que as pessoas não arriscam.
Para ilustrar, transcrevo uma conversa na praia, há muito tempo, com S., amigo antigo, que tinha os olhos brilhando de paixão quando me encontrou.
- Menino, soube que você está namorando.
- Não, Ana Silvia, não é bem namorando.
- Então é o quê?
- Ah, estou saindo com uma mulher.
- Saindo, dormindo, amando. Olha só seu sorriso, amigo. Isso é sorriso de felicidade. Ela é legal?
- Ela é maravilhosa.
- E o que falta para namorar?
- Como vou saber que ela é A mulher para mim?
- Acho que não vai saber.
- E se eu arriscar uma relação séria com ela e deixar passar a mulher da minha vida?
- Não acredito que exista O alguém na vida de ninguém. Mas o que você quer de alguém em relação a você e de você em relação a alguém?
- Não sei.
- Tem medo?
- Medo de me perder.

Sophia de Mello Breyner Andresen

A hora da partida

A hora da partida soa quando
Escurece o jardim e o vento passa,
Estala o chão e as portas batem, quando
A noite cada nó em si deslaça.

A hora da partida soa quando
as árvores parecem inspiradas
Como se tudo nelas germinasse.

Soa quando no fundo dos espelhos
Me é estranha e longínqua a minha face
E de mim se desprende a minha vida.

E continuo a depositar flores roxas...


... no porta-retrato onde não estás

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Palavras à deriva

Sinto falta de escrever. Mas ao mesmo tempo que dá essa vontade de ver as letras se juntando e as ideias tomando forma, bate uma preguiça de pensar, uma indecisão sobre o que contar. Dramas e comédias amontoam-se na minha vida, como em qualquer vida. Tudo é único e banal, arrastado e elétrico, surpreendente e déjà vu.
Quero agora imaginar meu passeio de barco amanhã e bloody mary ao entardecer. O mar como testemunha dos dois eventos e conversas em que uns ouvem os outros e respeitam. O diálogo rende, avança, encanta. Não perco mais tempo com palavras que não quero escutar. Estou surda completamente a mentiras, embustes, agressões - mentiras já são agressões, não? Aprendi que a mecânica é simples: se não falo, não ouço. Bom e fácil assim.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Quem recebe isso não pode ser triste

The Mom Song
me lembrou você :)
te amo

Get up now
Get up now
Get up out of bed
Wash your face
Brush your teeth
Comb your sleepyhead
Here's your clothes and your shoes
Hear the words I said
Get up now ! Get up and make your bed
Are you hot ? Are you cold?
Are you wearing that?
Where's your books and your lunch and your homework at ?
Grab your coat and gloves and your scarf and hat
Don't forget ! You gotta feed the cat
Eat your breakfast , the experts tell us it 's the most important meal of all
Take your vitamins so you will grow up one day to be big and tall
Please remember the orthodontist will be seeing you at 3 today
Don't forget your piano lesson is this afternoon so you must play
Don't shovel
Chew slowly
But hurry
The bus is here
Be careful
Come back here
Did you wash behind your ears?
Play outside , don't play rough , will you just play fair?
Be polite , make a friend , don't forget to share
Work it out , wait your turn , never take a dare
Get along !
Don't make me come down there
Clean your room , fold your clothes , put your stuff away
Make your bed , do it now , do we have all day ?
Were you born in a barn ? Would you like some hay?
Can you even hear a word I say ?
Answer the phone ! Get off the phone !
Don't sit so close , turn it down , no texting at the table
No more computer time tonight!
Your iPod 's my iPod if you don't listen up
Where are you going and with whom and what time do you think you 're coming home?
Saying thank you , please , excuse me makes you welcome everywhere you roam
You 'll appreciate my wisdom someday when you 're older and you 're grown
Can't wait till you have a couple little children of your own
You 'll thank me for the counsel I gave you so willingly
But right now I thank you not to roll your eyes at me
Close your mouth when you chew , would appreciate
Take a bite maybe two of the stuff you hate
Use your fork , do not burp or I'll set you straight
Eat the food I put upon your plate
Get an A, get the door , don't get smart with me
Get a grip , get in here , I'll count to three
Get a job , get a life , get a PHD
Get a dose of ,
"I don't care who started it !
You 're grounded until you 're 36"
Get your story straight and tell the truth for once , for heaven's sake
And if all your friends jumped off a cliff would you jump , too?
If I've said it once , I've said at least a thousand times before
That you 're too old to act this way
It must be your father's DNA
Look at me when I am talking
Stand up straighter when you walk
A place for everything and everything must be in place
Stop crying or I'll give you something real to cry about
Oh!
Brush your teeth , wash your face, put your PJs on
Get in bed , get a hug , say a prayer with mom
Don't forget , I love you
And tomorrow we will do this all again because a mom 's work never ends
You don't need the reason why
Because, because , because , because
I said so , I said so , I said so , I said so
I'm the mom !

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Para André. Com carinho.

Casamentos possíveis – Contardo Calligaris

Uma das boas razões para se casar é a seguinte: uma vez casados, podemos culpar o casal por boa parte de nossas covardias e impotências.

O marido, por exemplo, pode responsabilizar mulher, filhos e casamento por ele ter desistido de ser o aventureiro que ainda dorme, inquieto, em seu peito. A decepção consigo mesmo é menos amarga quando é transformada em acusação: “Você está me impedindo de alcançar o que eu não tenho a coragem de querer”. Essas recriminações, que disfarçam nossos fracassos, não são unicamente masculinas. Certo, os homens são quase sempre assombrados por impossíveis devaneios de grandeza – como se algum destino extraordinário e inalcançável já tivesse sido sonhado para eles (e foi mesmo, geralmente pelas suas mães). Diante de tamanha expectativa, é cômodo alegar que o casal foi o impedimento. As mulheres, inversamente, seriam mais pé-no-chão, capazes de achar graça nas serventias do cotidiano. Por isso mesmo, aliás, elas encarnariam facilmente, para os homens, os limites que a realidade impõe aos sonhos que eles não têm a ousadia de realizar. Agora, as mulheres também sonham. Há a dona de casa que acusa o marido, os filhos e o casamento por ela ter desistido de outra vida (eventualmente, profissional), que teria sido fonte de maiores alegrias. E há, sobre tudo, para muitas mulheres, um sonho romântico de amor avassalador e irresistível, do qual, justamente, elas desistem por causa de marido, filhos e casamento. Com isso, d. Quixote se queixa de que sua mulher esconde seus livros de cavalaria e o impede de sair à cata de moinhos de vento. E Madame Bovary se queixa de que seu marido esconde seus livros de amor e a impede de sair pelos bailes, à cata de paixões sublimes e elegantes.

Pena que raramente eles consigam ter os mesmos sonhos. Um problema é que os sonhos dos homens podem ser de conquista, mas dificilmente de amor, pois eles derivam diretamente das esperanças que as mães depositam em seus filhos, e, claro, uma mãe pode esperar que seu rebento varão seja um dom-juan, mas raramente esperará ser substituída por outra mulher no coração do filho. Não pense que esse fogo cruzado de acusações seja causa recorrente de divórcio. Ao contrário, ele faz a força do casamento, pois, atrás da acusação (”É por sua causa que deixei de realizar meus sonhos”), ouve-se: “Ainda bem que você está aqui, do meu lado, fornecendo-me assim uma desculpa -sem você, eu teria de encarar a verdade, e a verdade é que eu mesmo não paro de trair meus próprios sonhos”. Ou seja, em geral, a gente casa com a pessoa “certa”: a que podemos culpar por nossos fracassos. E essa, repito, não é uma razão para separar-se. Ao contrário, seria uma boa razão para ficar juntos.

Quando a coisa aperta, não é porque sonhos e devaneios teriam sido frustrados “por causa do outro”, mas pelas “cobranças”, que, elas sim, podem se revelar insuportáveis. Um exemplo masculino. Uma mulher me permite acreditar que é por causa dela que eu não consigo ser o que quero: graças a Deus, não posso mais tentar minha sorte no garimpo agora que tenho esposa, filhos e tal. Até aqui, tudo bem. Como compensação pelos sonhos dos quais eu desisti, passo as tardes de domingo afogando num sofá e soltando foguetes quando meu time marca um gol, mas eis que, no meio do jogo, minha mulher me pede para brincar com as crianças ou para ir até à padaria e comprar o necessário para o café – logo a mim, que deveria estar explorando as fontes do Nilo ou negociando a paz entre os senhores da guerra da Somália. Essa cobrança, aparentemente chata, poderia salvar-me da morosa constatação do fracasso de meus sonhos e das ninharias com as quais me consolo. Talvez, aliás, ela me ajudasse a encontrar prazer e satisfação na vida concreta, nos afetos cotidianos. Mas não é o que acontece: o que ouço é mais uma voz que confirma minha insuficiência. À cobrança dos sonhos dos quais desisti acrescenta-se a cobrança de quem foi (ou é) “causa” de minha desistência e razão de meu “sacrifício”: “Olhe só, mesmo assim, ela não está satisfeita comigo.” Em suma, não presto, nunca, para mulher alguma -nem para a mãe que queria que eu fosse herói nem para a esposa para quem renunciei a ser herói. E a corda arrebenta.

O ideal seria aceitar que nosso par nos acuse de seus fracassos e, além disso, não lhe pedir nada. Difícil.

domingo, 18 de outubro de 2009

Borges

AUSENCIA

Habré de levantar la vasta vida
que aún ahora es tu espejo:
cada mañana habré de reconstruirla.
Desde que te alejaste,
cuántos lugares se han tornado vanos
y sin sentido, iguales
a luces en el día.
Tardes que fueron nicho de tu imagen,
músicas en que siempre me aguardabas,
palabras de aquel tiempo,
yo tendré que quebrarlas con mis manos.
¿En qué hondonada esconderé mi alma
para que no vea tu ausencia
que como un sol terrible, sin ocaso,
brilla definitiva y despiadada?
Tu ausencia me rodea
como la cuerda a la garganta,
el mar al que se hunde.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Lou Reed - Berlin

You're right and I'm wrong
oh babe, I'm gonna miss you now that you're gone
One sweet day
You're right, oh, and I'm wrong
you know I'm gonna miss you now that you're gone
One sweet day
One sweet day

Je t'aime moi non plus

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

"Quanto a mim, o que eu fiz foi esticar até o extremo, em minha vida, o que a maioria só tem coragem de esticar até a metade" F. Dostoiévski

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Confissão. Ou As tentações de Santo Antão

Não sei se alguém que lê este blog conhece os confessionários do Convento de Santo Antônio, no Rio, pelo menos nestes tempos de reforma. Em uma varandinha que dá para o pátio geralmente fechado à visitação dos fiéis estão duas mesinhas, parecendo de repartição pública, cada uma ocupada por um religioso, com uma cadeirinha ao lado para o "pecador" se sentar e preencher verbalmente uma anamnese de falhas espirituais e pouca fé. Escolhi a segunda mesinha, pela distância do salão onde estava sendo celebrada a missa do frei Floriano e também pelos bondosos olhos azuis do franciscano em seu tradicional hábito marrom. Dei bom-dia.
- ... - olhavam-me os olhos azuis.
O que eu deveria falar? O silêncio era constrangedor.
- Bom, não sei por onde começar. Na verdade, estou buscando paz para meu coração e o fim de pensamentos ruins - desabafei, emocionada, com os olhos cheios de lágrimas.
- Há quanto tempo a senhora não se confessa? - perguntou ele.
Tive medo de responder. Só me lembrava da confissão da Primeira Comunhão, quando balbuciei, roxa de vergonha, que brigava com meu irmão, discutia com meus pais e - pecado dos pecados - havia, digamos, tomado emprestado sem pedido nem prazo de devolução uma lindíssima capinha de chuva transparente da Susi de uma amiga.
- Acho que tinha 8 anos. Foi na Primeira Comunhão.
- E quantos anos a senhora tem agora?
- 45.
- E a senhora acha que é católica?
- Claro que sou católica.
- Mas a Igreja manda confessar uma vez por ano. Por que a senhora não fez isso? São 40 anos...
Comecei a me irritar. Ele estava deliberadamente aumentando minha idade.
- Menos de 40, por favor. Mas não acredito em confissão. Acredito em conversas com um Deus piedoso, e isso tenho sempre.
- Existem regras na igreja. A senhora não vai andar nua na rua porque acha isso certo.
Ai, meus sais...
- São coisas diferentes. A justiça dos homens às vezes absolve o que não é absolvido pela divina e vice-versa. Ou não? Acho que há entre os católicos várias correntes que afrouxam ou apertam mais as interpretações das leis de Deus e do Vaticano.
- Isso a senhora está falando sem nenhum embasamento.
Meus sentimentos agora passavam longe de qualquer temperança. Estava em vias de pegar pesado e mandar a tal da paz que fui buscar às favas. Rapidamente, pensei: deve ser uma provação de Deus, tal qual foi feito com Jó. Diminuí a carga com uma enorme expiração.
- Olha, não estou aqui para discutir religião com o senhor, vim em busca de ajuda espiritual.
- A senhora é casada?
Sinceramente, não entendi a razão da pergunta. Enfim...
- Não, separada.
- Casou-se na igreja?
(Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo, tende piedade de nós. Cordeiro de Deus que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós. Cordeiro de Deus que tirais o pecado do mundo, dai-nos a paz - repetia como um mantra)
- Não casei na igreja, não.
- Faz muito tempo que se separou?
- Hã????
- Faz muito tempo que se separou?
- Uns sete anos.
- E o que fez de lá para cá?
Como assim, o que fez? Será que ele queria ouvir sobre minha vida sexual? Era isso? O frade estava me provocando. Ou não. Provação de Jó. A resposta veio ríspida.
- Trabalhei como uma mula e criei dois filhos pequenos. Mas se o senhor quer saber se tenho pecados, não sei. Todos os dias, quando rezo o Pai-Nosso, peço perdão pelas minhas ofensas. E, se eu me lembro, porque posso ter tido amnésias providenciais, não matei nem roubei. O resto dos mandamentos da lei de Deus acho que cumpri também - prolonguei-me, esquecendo com certeza aquele tal de não cobiçar... Vale para mulher e homem?
- A gente peca sempre.
- Muito por omissão. Acho que meus maiores pecados foram por omissão, sim - agilizei, sem omitir no tom das palavras que naquele momento a ira tomava conta do meu espírito antes quase santo.
- Vai à igreja?
- Não estou aqui?
- Mas tem que ir aos domingos.
Ah, não. O frade ia me levar à loucura. Provação de Jó, provação de Jó, provação de Jó.
- Tem diferença? Venho quase todas as terças aqui e em alguns domingos vou a outra igreja. Mas rezo sempre para um Deus que todos vocês, padres, dizem que é um Deus de perdão.
- A senhora então, reze sete Pais-Nossos e sete Aves-Marias hoje e amanhã. Eu a absolvo em nome do Pai, do Filho e do Espírito santo. Amém.
Respondi amém, enquanto pensava que a penitência fora até pequena para o tanto de pecado que ele imaginava que eu tinha em quase 40 anos sem confissão. Eu me dera bem no teste de Jó. Minha fé e meus princípios não haviam sido abalados. Mas, peraê, o que era aquele frade que passava rápido por mim, não o confessor, mas outro, também de hábito marrom, sandálias franciscanas e cabelos... pintados de acaju precisando de retocar a raiz????? Franciscanos não fazem votos de não vaidade? Nada de Livro de Jó. Eu passeava em uma uma tela de Hieronymus Bosch.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

E nasceu uma flor amarela no meu jardim...

Bons sorrisos no céu, Bagaceira


Urubu e Fernando Bagaceira (foto roubada do Urublog (http://arsgratiars.blogspot.com)

domingo, 4 de outubro de 2009

Adorei ser musa por um dia. Obrigada, Ximenes

De uma história de noite, como tantas outras, você fez um texto adorável.

"De agora em diante, toda a minha vivência da boemia carioca terá maria Júlia como referência de pedra fundamental e princípio ativo, um patamar de transcendência a ser almejado. Aqui representada com nome falso, é uma conhecida de muitos amigos em comum que viveu a mais deliciosa história de amor a chegar aos meus ouvidos."

"Sabiamente, não se despediu do homem dos seus sonhos, como é de bom tom nas grandes histórias de amor. A vida nos ensina que grandes paixões sobrevivem na lembrança, na eternidade do efêmero. Mas os contos de fada e os filmes nos afirmam que quando um casal é feito um pro outro, vai se reencontrar pelos desígnios do destino." Isso é poesia...

"Minha mais nova musa me fascina pela ausência de culpa, pelo senso de humor e pelo embasamento filosófico presentes no relato." Hahahahahaha

Ter senso de humor, rir das minhas tragédias, quando possível, é o que me faz encontrar a resposta para a pergunta que sempre me faço: viver para quê?

Pequena história de um amor burro

Do blog Cristalk. (http://www.interney.net/blogs/cristalk/2009/10/01/pequena_historia_de_um_amor_burro/) Tão maravilhoso que pedi permissão para reproduzir.



“Só acredito que você me ama quando estou dentro de você”. E ela ficou pasma ao ouvir isso. Ela que achava que já tinha dado todas as demonstrações possíveis de amor. Verbalizado, inclusive, várias vezes. Mas ele não acreditava. Só quando estava dentro dela.

Eles tiveram filhos, que ela abraçou como causas nobres. Ele a criticava por ser uma mãe intensa. Por não ter mais só ele no mundo para amar. Ele começou a se tornar ferino, mas ela ainda o amava mesmo assim. Pelos momentos idílicos. E porque o amor não vai embora de um dia para o outro, mesmo quando a falta de respeito vem sem aviso, como susto que se prega.

Ele a traiu para chamar sua atenção. Ele negou socorro para provar que estava certo. Ele a despejou de casa para que ela se submetesse. E contra a sua vontade, enfim, ela optou por sair daquele filme, que nunca foi dela. Também para produzir uma história mais bonita para os filhos. Pela justiça mundial e porque sim. Porque ela era insubordinada.

Ele perambulou, bebeu, comeu muitas mulheres. Pediu para voltar. Foi insano em sequências. Acabou em direção oposta ao seu maior desejo.

Ela, livre, lutou sozinha pela sobrevivência. É difícil ser livre.

Ele continuou a odiá-la porque a amava.

Fim.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Olá, como vai? Eu vou indo e você, tudo bem?

- Tudo bom? E a família? Olha, não precisa me tratar com tanta cerimônia. Não somos estranhos, muito pelo contrário. Por favor... Tivemos discussões, arroubos, tristezas, mas faz parte de relações intensas, nem precisa de desculpas. Passou. Volta e meia me falam de você. O coração ainda dispara, mas é aquilo que já conversamos, tem que voar livre. Outro dia vi você na rua, bermuda quadriculada e a indefectível mochila à frente do corpo. Sorri e senti uma saudade de dizer: "E aí, rapá, tudo em riba?" E de dar um abraço e de rir com suas palavras estranhas. E tenho minhas histórias para contar também. Tenho certeza de que vai gargalhar. O Ximenes já me chama de "minha musa". Ai... Bom, tomara que esse gelo não demore muito a derreter. Somos pessoas de perdão e volta por cima.
- Oi. Não teria motivo de raiva, tristeza, nada, em relação a você para ter cerimônias. Você é das pessoas mais extraordinárias que conheci, gosto de sua família, aprendi sempre contigo, tudo. Nunca vou maldizer um milímetro pois seria leviano. Só falo bem com meus interlocutores quando o assunto é você. Não poderia ser de outra forma. Ocorre que tudo na vida tem um ciclo e esse ciclo tem seu tempo e esse tempo tem que ser respeitado. Não sou eu nem você que ditamos. É Deus, depende de nossas emoções, impulsos, o que sentimos. Esse ciclo acabou. Nos conhecíamos muito bem até onde nos relacionávamos. Hoje não nos relacionamos mais. Ponto final. Não sou seu amigo. Não há "liga", a não ser o que tínhamos - que era muito pessoal -, e já não temos mais. Toco a minha vida. Os processos levam tempo, e temos que seguir. Só isso. Mas não é desdém, raiva, desejo de algo ruim. Só não tenho que trocar, não é ainda hora pra mim. Espero que respeite isso. Tudo de bom...
- Claro que na vida há um ciclo e é claro que podemos mudar esse ciclo. E é claro que podemos criar ligas, novas ligas. E é criando ligas que um dia poderemos nos sorrir e dizer: como foi bom termos nos conhecido, pois Deus não nos fez encontrar nesta vida por acaso. Você segue sua vida, outras pessoas, outros interesses, não quero saber dela. Mas não posso deixar de insistir que há muito a trocar sempre. Com todos. Você realmente não é meu amigo. Ainda. Começamos uma relação de paixão e isso é difícil. E foi apaixonadamente que terminamos. Paixão tem um quê de patologia. Sofremos ambos. Mas poderemos ser amigos. O meu processo não é tão rápido, nem o seu, parece. Mas você não me abraçaria se um dia me encontrasse na rua? Você não me faria um cafuné se me visse chorando? Você acha que eu não te daria a mão se você precisasse? Que não choraria com suas mazelas? Isso acaba? Carinho acaba? Temos ou teremos amores novos, pois a vida continua. O que foi nosso sempre será. Você não é ponto final, mas reticências. Veja como terminou sua resposta anterior. Nada termina, mas muda. Esse ensinamento é seu e foi absorvido por mim. Agora, se prefere não falar, mudar de calçada quando me encontrar ou nunca mais me olhar nos olhos, tristemente tenho que aceitar. Eu, se o encontrasse agora, pularia no seu pescoço, daria um beijo na sua bochecha e diria: valeu a pena.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

O tesão, segundo Alexandre Borges

"A energia sexual, o tesão, é tudo consequência de um carinho, de um amor, de uma cumplicidade e de uma vontade de querer estar sempre junto. Acho que tem a coisa do cheiro, da pele, da forma como um casal se beija, se pega, como seduz, como leva para o quarto, como deita da cama... O sexo é um complemento, uma ação que traduz todo amor que você sente pela pessoa. O fato de o sexo ser bom é um ótimo termômetro de que a relação vai bem, assim como o quanto você se sente seduzido pela pessoa."

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Sob os olhos de Darcy Ribeiro

A leitura da coluna do Zuenir Ventura hoje no Globo me trouxe lembranças engraçadas. Poderia até dizer lisonjeiras. Tinha 16, 17 anos, cursava o terceiro ano do antigo científico, quando fui convidado por um amigo de faculdade do meu irmão para encontro em apartamento na Avenida Atlântica com Leonel Brizola, que preparava sua candidatura para concorrer ao governo do estado, em 1982. Até que eu era uma morena inteligente e interessante, e tornei-me de imediato alvo da cobiça desse amigo do meu irmão, que anos depois se elegeu vereador. Bom, voltando ao encontro, cheguei lá e fui apresentada ao Darcy Ribeiro. Ao me ver, ele partiu para cima. Rodeou, questionou, sentou ao meu lado. O assédio ficou tão evidente, que incomou o Brizola. "Ô Darcy, deixa a menina, deixa. Não vê quue ela ainda não foi desmamada", ralhou o caudilho. Consternado, Darcy afastou o corpo, mas os olhnhos astutos e sedutores não me desgrudaram a noite toda. Sei que ele não podia ver um rabo de saia, mas que até hoje isso me dá uma pontinha e orgulho, ah isso dá.

domingo, 20 de setembro de 2009

ONISCIÊNCIA

Começas a criar asas e me deixar. Deixo-te me deixar. Não me esforço mais para prender tuas palavras comigo. Sim, isso é amor. Deves voar. Talvez nem te lembres mais de mim, a não ser das palavras indignadas, quando deverias salvar-me, como tantas vezes corri para salvar-te. Não cobro, apenas idealizo. Como idealizei mãos nossas se entrelaçando. Não eram as minhas, mas outras tocando teu corpo. Soube. Sempre sei. Chorei. Não digo que passou, mas meus beijos já foram de outro sem culpa. Nem foi tão difícil assim como eu supunha, já que tu respiras em outro pescoço poemas enamorados de Drummond em um livreco chinfrim ao lado da cama.Desperdício. Ela não conhece Louise Bogan, certamente. Ela não falará a ti de fé, não terá atitudes de Maggie Estep. Mas tu terás a paz que querias, a ausência de questionamentos. Sinto-me feliz por ti, mas confesso que não te desejo feliz por ora. Não sou hipócrita. Talvez em outro dia. Em outro amanhã. Não guardes raiva. Somos humanos, pois não? Jesus maldisse os vendilhões, secou a figueira sem razão. Também eu tenho ira. Também tu falas o que não deves. Magoas como eu magoo. Mas temos a tendência de olharmos apenas para as nossas feridas.
Use tuas asas da meditação agora.
Distancia-te do mundo e de ti.
Sinta todas as tristezas enlouquecedoras.
E tenha piedade de todos nós.
"És agora apenas uma fotografia ao lado da minha insónia. Uma memória que me fala sobretudo, como todas as memórias, daquilo que nunca existiu. Nesta fotografia te esqueço. Meticulosamente, de cada vez que me esforço para reter-te e começo a inventar-te. Tudo em ti tem asas, agora - o teu riso, os teus passos. Até nas poucas frases que de ti recordo há um restolhar de penas. E deslizo para esta solidão demasiado humana de não poder voltar a ser sozinho, como era quando tu existias, nesta mesma cidade, e eu já nem sequer pensava em ti."
Fazes-Me Falta

suspiros



Well I'll be damned
Here comes your ghost again
But that's not unusual
It's just that the moon is full
And you happened to call
And here I sit
Hand on the telephone
Hearing a voice I'd known
A couple of light years ago
Heading straight for a fall

As I remember your eyes
Were bluer than robin's eggs
My poetry was lousy you said
Where are you calling from?
A booth in the midwest
Ten years ago
I bought you some cufflinks
You brought me something
We both know what memories can bring
They bring diamonds and rust

Well you burst on the scene
Already a legend
The unwashed phenomenon
The original vagabond
You strayed into my arms
And there you stayed
Temporarily lost at sea
The Madonna was yours for free
Yes the girl on the half-shell
Would keep you unharmed

Now I see you standing
With brown leaves falling around
And snow in your hair
Now you're smiling out the window
Of that crummy hotel
Over Washington Square
Our breath comes out white clouds
Mingles and hangs in the air
Speaking strictly for me
We both could have died then and there

Now you're telling me
You're not nostalgic
Then give me another word for it
You who are so good with words
And at keeping things vague
Because I need some of that vagueness now
It's all come back too clearly
Yes I loved you dearly
And if you're offering me diamonds and rust
I've already paid

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Pequeno alívio. Com moderação.

Hoje foi dia de pensar com carinho em você, não ontem, assim como não será amanhã. Guardei esta quinta-feira para a alegre saudade. Aquela dos presentes inusitados que só podiam sair da sua caraminholice, como uma bolsa cheia de lingeries estranhas que nunca mais usei. A da minha chegada ao Galeão com você à espera tendo nas mãos um papel com tremidas letras cor-de-rosa formando a palavra VACA. A de você fingindo ser minha filha em trocas de torpedos no hospital, onde ela, totalmente combalida, preferiu ficar dentro da emergência com você, enquanto eu aguardava os dois do lado de fora. A dos cem reais gastos em uma orgia de doces - gula que nos valeu pesos extras na consciência e no corpo. A das impressionantemente pacíficas noites no vale, você traduzindo e eu no meu quarto de vídeo - estarei lá sempre, dê uma olhada. A da foto no prato do Pão de Açúcar. A do motorista de táxi o confundindo com Wanderley Cardoso. A dos seus escritos encalacrados e divertidos no total sem-sentido deles - este é você! A das missas do frei Clemente às terças-feiras no convento de Santo Antônio, você enxugando minhas lágrimas emocionadas. A do café no Starbuck's. A da nossa compulsão de compras nos passeios em São Paulo. A das caminhadas com direito a muita cosquinha pelo Aterro... Pacotes de felicidades entremeados com... deixa pra lá, me esqueci.
Reservo este prazer só para hoje. E me alegro um pouco. Mais do que isso costuma fazer mal, adverte o Ministério da Saúde.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

De manha, à tarde e à noite, ardo



Eu tenho febre, eu sei
É um fogo leve que eu peguei
Do mar, ou de amar, não sei
Mas deve ser da idade...


quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Retiros Espirituais - Gil

Nos meus retiros espirituais,descubro certas coisas tão normais
Como estar defronte de uma coisa e ficar
Horas a fio com ela, bárbara, bela, tela de TV
Você há de achar gozado Barbarela dita assim dessa maneira
Brincadeira sem nexo que gente maluca gosta de fazer
Eu diria mais tudo não passa dos espirituais sinais iniciais desta canção
Retirar tudo o que eu disse, reticenciar que eu juro
Censurar ninguém se atreve
É tão bom sonhar contigo, oh, luar tão cândido
Nos meus retiros espirituais descubro certas coisas anormais
Como alguns instantes vacilantes e só
Só com você e comigo, pouco faltando, devendo chegar
Um momento novo, vento devastando como um sonho
Sobre a destruição de tudo, que gente maluca gosta de sonhar
Eu diria sonhar com você jaz nos espirituais sinais iniciais desta canção
Retirar tudo o que eu disse, reticenciar que eu juro
Censurar ninguém se atreve
É tão bom sonhar contigo, oh, luar tão cândido
Nos meus retiros espirituais, descubro certas coisas tão banais
Como ter problemas, ser o mesmo que não
Resolver tê-los é ter, resolver ignorá-los é ter
Você há de achar gozado ter que resolver de ambos os lados
De minha equação, que gente maluca tem que resolver
Eu diria o problema se reduz aos espirituais sinais iniciais desta canção
Retirar tudo o que eu disse, reticenciar que eu juro
Censurar ninguém se atreve
É tão bom sonhar contigo, oh, luar tão cândido

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Música na cabeça




Lá lá lá lá lauê
Fala Martim Cererê
Lá lá lá lá lauê
Fala Martim Cererê

Vem cá Brasil
Deixa eu ler a sua mão menino
Que grande destino
Reservaram pra você

Fala Martim Cererê
Lá lá lá lá lauê
Fala Martim Cererê
Lá lá lá lá lauê
Fala Martim Cererê

Tudo era dia
O índio deu a terra grande
O negro trouxe a noite na cor
O branco a galhardia
E todos traziam amor

Tinham encontro marcado
Pra fazer uma nação
E o Brasil cresceu tanto
Que virou interjeição

Lá lá lá lá lauê
Fala Martim Cererê
Lá lá lá lá lauê
Fala Martim Cererê

Gigante pra frente a evoluir
Laiá laiá
Milhões de gigantes a construir
Laiá laiá laiá
Gigante pra frente e a evoluir
Laiá laiá
Milhões de gigantes a construir

Vem cá Brasil
Deixa eu ler a sua mão menino
Que grande destino
Reservaram pra você

Fala Martim Cererê
Lá lá lá lá lauê
Fala Martim Cererê
Lá lá lá lá lauê
Fala Martim Cererê

Tudo era dia
O índio deu a terra grande
O negro trouxe a noite na cor
O branco a galhardia
E todos traziam amor

Tinham encontro marcado
Pra fazer uma nação
E o Brasil cresceu tanto
Que virou interjeição

Lá lá lá lá lauê
Fala Martim Cererê
Lá lá lá lá lauê
Fala Martim Cererê

Gigante pra frente a evoluir
Laiá laiá
Milhões de gigantes a construir
Laiá laiá laiá
Gigante pra frente e a evoluir
Laiá laiá
Milhões de gigantes a construir
Laiá laiá laiá

Gigante pra frente e a evoluir
Laiá laiá
Milhões de gigantes a construir
Laiá laiá laiá
Gigante pra frente e a evoluir
Laiá laiá

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

MARCOS

1 E Jesus entrou em Jerusalém, no templo, e, tendo visto tudo em redor, como fosse já tarde, saiu para Betânia com os doze.
12 ¶ E, no dia seguinte, quando saíram de Betânia, teve fome.
13 E, vendo de longe uma figueira que tinha folhas, foi ver se nela acharia alguma coisa; e, chegando a ela, não achou senão folhas, porque não era tempo de figos.
14 E Jesus, falando, disse à figueira: Nunca mais coma alguém fruto de ti. E os seus discípulos ouviram isto.
15 E vieram a Jerusalém; e Jesus, entrando no templo, começou a expulsar os que vendiam e compravam no templo; e derrubou as mesas dos cambiadores e as cadeiras dos que vendiam pombas.
16 E não consentia que alguém levasse algum vaso pelo templo.
17 E os ensinava, dizendo: Não está escrito: A minha casa será chamada, por todas as nações, casa de oração? Mas vós a tendes feito covil de ladrões.
18 E os escribas e príncipes dos sacerdotes, tendo ouvido isto, buscavam ocasião para o matar; pois eles o temiam, porque toda a multidão estava admirada acerca da sua doutrina.
19 E, sendo já tarde, saiu para fora da cidade.
20 E eles, passando pela manhã, viram que a figueira se tinha secado desde as raízes.
21 E Pedro, lembrando-se, disse-lhe: Mestre, eis que a figueira, que tu amaldiçoaste, se secou.
22 E Jesus, respondendo, disse-lhes: Tende fé em Deus;
23 Porque em verdade vos digo que qualquer que disser a este monte: Ergue-te e lança-te no mar, e não duvidar em seu coração, mas crer que se fará aquilo que diz, tudo o que disser lhe será feito.
24 Por isso vos digo que todas as coisas que pedirdes, orando, crede receber, e tê-las-eis.
25 E, quando estiverdes orando, perdoai, se tendes alguma coisa contra alguém, para que vosso Pai, que está nos céus, vos perdoe as vossas ofensas.
26 Mas, se vós não perdoardes, também vosso Pai, que está nos céus, vos não perdoará as vossas ofensas.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

O Escorpião e o Sapo

"Na margem de um rio estava, um dia, um sapo. Enquanto se preparava para cruzar as águas até a margem oposta, chegou um escorpião, que também queria atravessar para o outro lado. Mas escorpiões não nadam, então ele pediu ao sapo:
-Deixa-me subir subir nas tuas costas e transporta-me até a outra margem. És grande o suficiente e não te cansarás.
Mas o sapo, que bem conhecia o veneno do ferrão do escorpião, respondeu:
- Nas minhas costas? Estás louco! Tenho medo de teu veneno mortal!
E o escorpião:
- Estás equivocado em temer-me. Eu desejo atravessar o rio. É meu interesse que tu vivas.
Com tal raciocínio, o escorpião induziu o sapo a aceitar. Subiu, então, nas costas do sapo. O sapo entrou na água carregando o escorpião e começou a nadar, perfeitamente à vontade no seu meio natural. Assim que chegaram ao meio do rio, no ponto onde era mais forte a corrente e maior o esforço do sapo, eis que o escorpião levantou o rabo e enterrou o ferrão com toda força nas costas do sapo. Enquanto o veneno mortal se difundia em seu corpo, sentindo que a vida se esvaía, o sapo exclamou:
- Maldito desgraçado, que estás fazendo? Não vês que ambos morreremos: eu envenenado e tu afogado! Por que fizeste isso?
E o escorpião, já se afogando:
- Porque eu sou um escorpião e devo ferrar: esta é minha natureza.
E morreram.


quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Surfe no céu

Protegida da ventania que varre Botafogo nesta manhã quase especial, aprendo com os pássaros que driblam a devastadora força do ar. Um gavião seguia rápido em voo direto até pegar de jeito o vento na proa. Instintivo, parou de bater asas, pendeu para um lado e surfou no céu divinamente em sentido contrário ao que ia.
Se há problemas insolúveis, mais fortes do que podemos segurar, é para parar de se debater. Temos instinto também, sabemos exatamente a forma de chegar ao que queremos, quando avançar e quando recuar. Muitas vezes arriscamos, temos pressa, inovamos. É bom a adrenalina da tentativa de superação. Só não podemos maldizer se der errado.
Eu fico sempre com Paulo Mendes Campos:
Se tiveres de ir a algum lugar, não te preocupe a vaidade fatigante de ser a primeira a chegar. Se chegares sempre aonde quiseres, ganhaste.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Pequenas Epifanias

Há alguns dias, Deus - ou isso que chamamos assim, tão descuidadamente, de Deus - enviou-me certo presente ambíguo: uma possibilidade de amor. Ou disso que chamamos, também com descuido e alguma pressa, de amor. E você sabe a que me refiro. Antes que pudesse me assustar e, depois do susto, hesitar entre ir ou não ir, querer ou não querer - eu já estava lá dentro. E estar dentro daquilo era bom. Não me entenda mal - não aconteceu qualquer intimidade dessas que você certamente imagina. Na verdade, não aconteceu quase nada. Dois ou três almoços, uns silêncios. Fragmentos disso que chamamos, com aquele mesmo descuido, de "minha vida". Outros fragmentos, daquela "outra vida". De repente cruzadas ali, por puro mistério, sobre as toalhas brancas e os copos de vinho ou água, entre casquinhas de pão e cinzeiros cheios que os garçons rapidamente esvaziavam para que nos sentíssemos limpos. E nos sentíamos.
Por trás do que acontecia, eu redescobria magias sem susto algum. E de repente me sentia protegido, você sabe como: a vida toda, esses pedacinhos desconexos, se armavam de outro jeito, fazendo sentido. Nada de mau me aconteceria, tinha certeza, enquanto estivesse dentro do campo magnético daquela outra pessoa. Os olhos da outra pessoa me olhavam e me reconheciam como outra pessoa, e suavemente faziam perguntas, investigavam terrenos: ah você não come açúcar, ah você não bebe uísque, ah você é do signo de Libra. Traçando esboços, os dois. Tateando traços difusos, vagas promessas.
Nunca mais sair do centro daquele espaço para as duras ruas anônimas. Nunca mais sair daquele colo quente que é ter uma face para outra pessoa que também tem uma face para você, no meio da tralha desimportante e sem rosto de cada dia atravancando o coração. Mas no quarto, quinto dia, um trecho obsessivo do conto de Clarice Lispector - Tentação - na cabeça estonteada de encanto: "Mas ambos estavam comprometidos. Ele, com sua natureza aprisionada. Ela, com sua infância impossível". Cito de memória, não sei se correto. Fala no encontro de uma menina ruiva, sentada num degrau às três da tarde, com um cão basset também ruivo, que passa acorrentado. Ele pára. Os dois se olhos. Cintilam, prometidos. A dona o puxa. Ele se vai. E nada acontece.De mais a mais, eu não queria. Seria preciso forjar climas, insinuar convites, servir vinhos, acender velas, fazer caras. Para talvez ouvir não. A não ser que soprasse tanto vento que velejasse por si. Não velejou. Além disso, sem perceber, eu estava dentro da aprendizagem solitária do não-pedir. Só compreendi dias depois, quando um amigo me falou - descuidado também - em pequenas epifanias - Miudinhas, quase pífias revelações de Deus feito jóias encravadas no dia-a-dia.
Era isso - aquela outra vida, inesperadamente misturada à minha, olhando a minha opaca vida com os mesmos olhos atentos com que eu a olhava: uma pequena epifania. Em seguida vieram o tempo, a distância, a poeira soprando. Mas eu trouxe de lá a memória de qualquer coisa macia que tem me alimentado nestes dias seguintes de ausência e fome. Sobretudo à noite, aos domingos. Recuperei um jeito de fumar olhando para trás das janelas, vendo o que ninguém veria.
Atrás das janelas, retomo esse momento de mel e sangue que Deus colocou tão rápido, e com tanta delicadeza, frente aos meus olhos há tanto tempo incapazes de ver: uma possibilidade de amor. Curvo a cabeça, agradecido. E se estendo a mão, no meio da poeira de dentro de mim, posso tocar também em outra coisa. Essa pequena epifania. Com corpo e face. Que reponho devagar, traço a traço, quando estou só e tenho medo. Sorrio, então. E quase paro de sentir fome.

Caio Fernando Abreu

segunda-feira, 11 de maio de 2009

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Mateus

Que servirá a um homem ganhar o mundo inteiro se vier a perder sua alma?

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Nietzsche

"Abençoados os que esquecem, porque aproveitam até mesmo seus equívocos".

As flores de plástico não morrem. Será?

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Pra São Jorge (Zeca Pagodinho)

Vou acender velas para São Jorge
A ele eu quero agradecer
E vou plantar comigo-ninguém-pode
Para que o mal não possa então vencer

Olho grande em mim não pega
Não pega não
Não pega em quem tem fé
No coração

Ogum com sua espada
Sua capa encarnada
Me dá sempre proteção
Quem vai pela boa estrada
No fim dessa caminhada
Encontra em Deus perdão

Louise Bogan

Men Loved Wholly Beyond Wisdon

Men loved wholly beyond wisdom
Have the staff without the banner.
Like a fire in a dry thicket
Rising within women's eyes
Is the love men must return.
Heart, so subtle now, and trembling,
What a marvel to be wise.
To love never in this manner!
To be quiet in the fern
Like a thing gone dead and still,
Listening to the prisoned cricket
Shake its terrible dissembling
Music in the granite hill.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

sexta-feira, 17 de abril de 2009

A pequena morte

Pequena morte, chamam na França, a culminação do abraço, que ao quebrar-nos faz por juntar-nos, e perdendo-nos faz por nos encontrar e acabando conosco nos principia. Pequena morte, dizem; mas grande, muito grande haverá de ser, se ao nos matar nos nasce. (Eduardo Galeano)

quinta-feira, 16 de abril de 2009

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Big Time



Gonna leave the pain behind
Gonna leave the fools in line
Gonna take the magic potion
Gettin' in an old black car
Gonna take a ride so far
To the land of sun tan lotion
Gonna take it state by state
Til I hit the golden gate
Get my feet wet in the ocean

I'm still living the dream we had,
For me it's not over
I'm still living the dream we had,
For me it's not over

Walkin on the bridge one day
Lookin out across the bay
I saw a rippling in the water
Once a big ship had passed
I borrowed a traveller's glass
And focused on the ocean's daughter
Kind of like a wave confused
Dancing in the sunset hues
She waved to me and called me over

I'm still living the dream we had,
For me it's not over
I'm still living the dream we had,
For me it's not over

Talkin' 'bout a friend of mine
Talkin' 'bout a gold mine
Richest vein in any mountain
Talkin' 'bout the enemy
Inside of me
Talkin' 'bout that youthful fountain
Talkin' 'bout you and me
Talkin' 'bout eternity
Talkin' 'bout the big time

I'm still living the dream we had,
For me it's not over
I'm still living the dream we had,
For me it's not over

segunda-feira, 13 de abril de 2009

domingo, 12 de abril de 2009

Fraqueza de homens e santos

Mateus 26:34 Replicou-lhe Jesus: Em verdade te digo que, nesta mesma noite, antes que o galo cante, tu me negarás três vezes.
Mateus 26:74 Então, começou ele a praguejar e a jurar: Não conheço esse homem! E imediatamente cantou o galo.
Mateus 26:75 Então, Pedro se lembrou da palavra que Jesus lhe dissera: Antes que o galo cante, tu me negarás três vezes. E, saindo dali, chorou amargamente.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Momento Serviço

Recebi da minha amiga Denise e adorei.
As primeiras páginas dos jornais de hoje em todo o mundo. Na parte superior da página ampliada está o link para acessar o jornal!

http://www.newseum.org:80/todaysfrontpages/flash/

O encontro e o amor

Depois do encontro com o Fiúza...

SUICÍDIO
(Bussunda, Marconi, Henrique e João)

Todo mundo que se suicida se dá mal
Qualé de se jogar nos trilhos do metrô da Central
É bem melhor viver oitenta e dois anos e morar com os índios
Quem sabe cê ganha na Loto
Seu time faz aquela contratação
Pendure sua chuteira mas deixe o seu pescoço em paz
Não conheço ninguém que se suicidou e se deu bem
Não conheço ninguém que se suicidou e se deu bem
Não pule desse trem
Vai que um anjo está passando e estraga a sua festa
E você fica aleijado com um arranhão na testa

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Só um oi

Hoje ouvi tua voz, teu oi doce, assim do nada, na hora do almoço. Tornei-me uma antena receptora, capturo qualquer resíduo deixado por ti aí, no crescer da distância, no passar do tempo. Tenho certeza de que eras tu, a memória é certeira, a saudade amplifica o som. Não sei para quem o oi. Mas era um oi. Deixa-me acreditar que foi para mim.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Oração do Tempo

És um senhor tão bonito
Quanto a cara do meu filho
Tempo tempo tempo tempo
Vou te fazer um pedido
Tempo tempo tempo tempo...

Compositor de destinos
Tambor de todos os rítmos
Tempo tempo tempo tempo
Entro num acordo contigo
Tempo tempo tempo tempo...

Por seres tão inventivo
E pareceres contínuo
Tempo tempo tempo tempo
És um dos deuses mais lindos
Tempo tempo tempo tempo...

Que sejas ainda mais vivo
No som do meu estribilho
Tempo tempo tempo tempo
Ouve bem o que te digo
Tempo tempo tempo tempo...

Peço-te o prazer legítimo
E o movimento preciso
Tempo tempo tempo tempo
Quando o tempo for propício
Tempo tempo tempo tempo...

De modo que o meu espírito
Ganhe um brilho definido
Tempo tempo tempo tempo
E eu espalhe benefícios
Tempo tempo tempo tempo...

O que usaremos prá isso
Fica guardado em sigilo
Tempo tempo tempo tempo
Apenas contigo e comigo
Tempo tempo tempo tempo...

E quando eu tiver saído
Para fora do teu círculo
Tempo tempo tempo tempo
Não serei nem terás sido
Tempo tempo tempo tempo...

Ainda assim acredito
Ser possível reunirmo-nos
Tempo tempo tempo tempo
Num outro nível de vínculo
Tempo tempo tempo tempo...

Portanto peço-te aquilo
E te ofereço elogios
Tempo tempo tempo tempo
Nas rimas do meu estilo
Tempo tempo tempo tempo...

terça-feira, 31 de março de 2009

segunda-feira, 30 de março de 2009

Xará Plath

Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro
Ergo as pálpebras e tudo volta a renascer
(Acho que te criei no interior da minha mente)

Saem valsando as estrelas, vermelhas e azuis,
Entra a galope a arbitrária escuridão:
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro.

Enfeitiçaste-me, em sonhos, para a cama,
Cantaste-me para a loucura; beijaste-me para
a insanidade.

(Acho que te criei no interior de minha mente)

Tomba Deus das alturas; abranda-se o fogo
do inferno:
Retiram-se os serafins e os homens de Satã:

Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro.

Imaginei que voltarias como prometeste
Envelheço, porém, e esqueço-me do teu nome.
(Acho que te criei no interior de minha mente)

Deveria, em teu lugar, ter amado um falcão
Pelo menos, com a primavera, retornam com
estrondo

Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro:
(Acho que te criei no interior de minha mente

domingo, 29 de março de 2009

O outro lado

Paralisado, sem poder trabalhar, sem conseguir viver, ele ligou para a amante. Brincou em palavras, não tinha graça. Fechou o sorriso, a boca, o coração. Tentou dormir, e a sensacao que tinha tido dias antes, de angústia e medo, se intensificou. Tremeu como vara verde. Apelou para um remédio, mas às quatro acordou sem entender onde estava. Foi ao banheiro – sua reação ao nervosismo exacerbado – e se pôs a vomitar sem ter comido direito há dias, nada, dois bocados aqui e ali, nem almoço nem jantar. Precisava estar só e não podia. Sempre pessoas.

Começou a questionar tudo à sua volta. Estava apaixonado, e não tinha a menor capacidade emocional e física para bancar esse sentimento. Esperou o sol ir alto. O café da manhã em família era sem alma. Desmarcou a análise. Queria ver a outra, muito, muito. Faltava o ar como se estivessem apertando seu pescoço. Tentou andar pela casa e respirar fundo.

Telefonou novamente para a amante e desligou, antes que ela atendesse. Saiu de casa para vagar, tentar espantar a tristeza com o ruído dos passos. Parou na metade do caminho. Novamente os vômitos. Só pensava nela. Ela. Queria falar com ela.

Voltou e caiu duro na cama a olhar o teto, corpo coberto pelo edredon. Trinta e cinco graus lá fora. A voz dela era necessária, mas ali não dava. Deus, como queria a normalidade, nada é normal. Poderia ter sido, mas aconteceu esse amor entre eles e tudo ficou de pernas paro o ar.

Acordou já ao escurecer e resolveu sair de novo. Péssima idéia. O corpo não resistiu e ele retornou cambaleando. A esperança de vê-la não o abandonava. Foi ao prédio dela, interfonou, ninguém respondeu. Tentou o orelhão. "Alô", ela disse. Suas cores voltaram. Era ela, meus deuses. "Posso subir?". "Claro, venha". Abraçou-a sem dizer nada. Choraram juntos. Ela percebeu que ele morria. Deixou sangrar sem um beijo. "O que fazemos com essa paixão?", ele perguntou. Ela balançou a cabeça. Suspirou com ele, e morreram juntos, antes que ele voltasse para casa.

quinta-feira, 26 de março de 2009

P'SSOA

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.

Põe quanto és
No mínimo que fazes.

Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive

terça-feira, 17 de março de 2009

sexta-feira, 13 de março de 2009

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Caio Fernando Abreu

"Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está aí, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada ¨impulso vital¨. Pois esse impulso às vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te surpreenderás pensando algo assim como ¨estou contente outra vez¨... "

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

"Em parte conhecemos, em parte profetizamos"

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Dona nobis pacem

Tenho a frase tatuada nos quadris. Já me perguntaram, mas logo aí? Sim, claro, em um lugar que remete a movimento. Onde mais? Tudo o que existe faz a existência do que não existe ser mais existente. E vice-versa. Deu para entender? Há um lamento clássico dos dramáticos que exemplifica bem: você só vai dar valor quando perder. É mais ou menos por aí.
Voltando ao "dai-nos a paz", depois de um passeio ao deus-dará pelo Rio Sul, onde vi o Buda bebê tomando sorvete e canetas a preços de finas jóias, fui me encontrar com Nossa Senhora das Graças na Igreja de Santa Teresinha, bem ao lado do shopping. Lembrava-me dos talhos em mármore branco mais simpáticos, fazendo jus à denominação de Virgem do Sorriso. Havia uma certa sisudez na imagem hoje. Mudou ela ou eu? Mas a paz estava ali, comigo. Fui rezar por amigos que precisavam, e acabei pensando em mim. Engraçado como nessas horas vazias a gente tende a uma autopiedade, não? Saí de lá com a sensação de um mundo a completar. Estranho. Não perdi a fé, mas me cansam essas lacunas.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Meu mundo e Nada Mais revisitada

(pós-show de Adriana Calcanhotto)

Quando eu fui ferido
Vi tudo mudar
Das verdades que eu sabia
Só sobraram restos
Que eu não esqueci
Toda aquela paz que eu tinha
Eu que tinha tudo
Hoje estou mudo, estou mudado
À meia noite, à meia luz, pensando
Daria tudo por um modo de esquecer
Eu queria tanto
Estar no escuro do meu quarto
À meia noite, à meia luz, sonhando
Daria tudo por meu mundo e nada mais
Não estou bem certo se ainda vou sorrir
Sem um travo de amargura
Como ser mais livre, como ser capaz
De enfrentar um novo dia
Eu que tinha tudo
Hoje estou mudo, estou mudado
À meia noite, à meia luz, pensando
Daria tudo por um modo de esquecer
Eu queria tanto
Estar no escuro do meu quarto
À meia noite, à meia luz, sonhando
Daria tudo por meu mundo e nada mais
Eu que tinha tudo
Hoje estou mudo, estou mudado
À meia noite, à meia luz, pensando
Daria tudo por um modo de esquecer
Eu queria tanto
Estar no escuro do meu quarto
À meia noite, à meia luz, sonhando
Daria tudo por meu mundo e nada mais...

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Traição

Oh my word, what does it mean?
Is it love or is it me
That makes me change so suddenly?
Looking out, feeling free.
Sit here lying in my bed,
Wondering what it was I'd said
That made me think
I'd lost my head,
When I knew I lost my heart instead.
Won't you please read my signs, be a gypsy.
Tell me what I hope to find deep within me.
Because you can find my mind, please be with me.
Of all the better things I've heard,
Loving you has made the words
And all the rest seem so absurd,
'Cause in the end it all comes out unsure.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Cachaça de macumba

Uns dizem que sofrem porque atiraram pedra na cruz. Tenho certeza de que meus tormentos começaram numa esquina de Ipanema, quando subtraí a garrafa de cachaça de um despacho a caminho de uma festa, pencas de anos atrás.
Seguia com meu namorado e dois amigos e não me lembro de quem foi a idéia de desfalcar o ebó da caninha que jazia tentadoramente ali. A ação com certeza foi minha. Incentivada pela embriaguez e pela aventura, queria beber daquela garrafa mágica, que me ofuscava a consciência com seu néon. Mais tarde, percebi na carne as conseqüências de dar golpes em santos e entidades. Sim, sou supersticiosa.
Chegamos trôpegos, eu com a garrafa na mão, à casa na Barão da Torre que seria demolida para a construção de um edifício. A festa, uma das muitas de despedida do local, estava estranha, se desenrolava em câmera lenta. Nós quatro entramos em ritmo de “uhúúú, vamos detonar”, mas os convidados pareciam alheios à nossa presença esfuziante. Olhei para a beberagem enfeitiçada que segurava com um egoísmo desconhecido para mim: “Maneiro, essa cachaça dá o poder da invisibilidade. Ou será que não estamos aqui? Ou será que não estamos em lugar nenhum?”. Pronto. Começava a rolar a paranóia e a vingança do além.
Convoquei uma assembléia rápida com os outros três. Vambora daqui, sentenciei. Mas pra onde?, vacilaram os moços. Linha Branca – pra quem não sabe, era como chamávamos a Pinheiro Machado quando o rumo eram as ladeiras de Santa Teresa via Catumbi.No Golzinho preto do meu namorado, com a garrafa na mão sempre e a cabeça pra fora da janela em busca de ar fresco – a essa altura o estrago do álcool já era sentido em ondas de enjôo –, vi o Rio como o paraíso para desvalidos amantes do goró. Em praias, encruzilhadas ou nas mãos de criaturas que não deram conta de buscar refúgio para curar a manguaça, e abandonaram os corpos na rua, sempre há uma garrafa cheia, ou quase cheia, ou suficientemente cheia para alguém pegar. Divagava, quando a sirene da polícia incomodou meus pensamentos. Em vez, de parar, meu namorado acelerou, efeito da cachaça do ebó. Os homens vieram a toda, mostrando as armas. Nada a temer, éramos invisíveis.
A sirene ficou para trás, a garrafa continuava na mão. Em velocidade na Almirante Alexandrino, rodamos 180° nos trilhos derrapantes dos bondes. A cana voou pela janela, se espatifando no chão. Era o santo cobrando o seu quinhão, enfim.Nunca houve perdão para o pecado distraído de roubar o despacho. As divindades deram o veredicto naquela mesma noite ao meu “crime’: serás alvo da sanha de bêbados e loucos até o fim dos seus dias. Assim foi e assim é.