quinta-feira, 26 de julho de 2007

O gato de Cheshire



- Poderias dizer-me, por favor, que caminho hei de tomar para sair daqui?
- Isso depende de onde queres chegar! - respondeu o gato.
- Não interessa muito para onde vou... - retorquiu Alice.
- Nesse caso, pouco importa o caminho que tomes - interpôs o gato.
- Desde que chegue a algum lado! - acrescentou Alice.

ORACIÓN DEL PEREGRINO

Paz del alma dolorida, Cristo de El Pardo yacente, déjame posar la frente de tu Costado en la herida. De la cuesta de la vida vengo cansado, Señor, y abrumado del dolor de mis pasados errores. Dulce Amor de los amores, dame a gustar de tu amor.
Hoy llego a Ti, peregrino en busca de tu perdón. Con mi andariego bordón te hallé, al fin, en mi camino. Al volver tras mi destino, sólo te pido, Jesús, que, al irme yo con mi cruz, dejes contigo encerrado mi corazón perdonado, antes que expire la luz.

terça-feira, 24 de julho de 2007

Os sub-30

Não sou pedófila. Já amei mais velhos, mais novos e da mesma idade. Mas tenho muitos motivos bons para concordar com Nelson Rodrigues: as mulheres têm que amar os bem mais novos por um tempo. Eles são audaciosos, não sabem o que é conseqüência. Sempre têm pressa para o amor e o desejo, assim como a fome, é enorme.
Trazem menos bagagem, um sorriso mais sincero, um cheiro mais forte, um beijo mais longo, uma pegada mais instintiva ou primitiva, vão mais fundo, famintos que sempre estão. E sorriem a cada milímetro de conquista e com a diversão que é fazer amor.
Consolam mais porque se desnorteiam com a dor, que ainda não entendem bem. Não se importam muito sobre o motivo do choro, só querem que passe logo. Conversam sobre árvores e aventuras. Lêem o mundo sem confusão; não filosofam, apenas descobrem.

Nelson Rodrigues

"As mulheres só deviam amar meninos de 17 anos"

Depois explico por quê.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Mário de Sá-Carneiro

Quase

Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num baixo mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quase vivido...

Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minh'alma tude se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!

De tudo houve um começo... e tudo errou...
- Ai a dor de ser-quase, dor sem fim... -
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou...

Momentos de alma que desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...

Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...

Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...

... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...

Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa.
Se ao menos eu permanecesse aquém…

terça-feira, 17 de julho de 2007

Triste


Novo acidente aéreo. Que coisa doida. Pensei em falta de sorte, pensei em irresponsabilidades, pensei em falta de estrutura, pensei em um monte de gente que poderia estar no vôo. Meu coração descompassou. Tristeza, raiva e impotência. Uma bola de fogo lá, e eu estou ardida aqui. Dois lexotans no mercado paralelo. Sempre há um mercado paralelo para o que quer que seja. O mercado paralelo já me deixou sem sangue. Cadê os responsáveis por essas dores todas?

Rádio JB no táxi

"Depois de ter você, poetas para quê?
Os deuses, as dúvidas...
Pra que amendoeiras pelas ruas?
Para que servem as ruas...
depois de ter você?"

sexta-feira, 13 de julho de 2007

DO TALMUD

(O Talmud é um livro onde se encontram condensados todos os depoimentos, ditados e frases pronunciados pelos rabinos através dos tempos)
"Cuida-te quando fazes chorar uma mulher, pois Deus conta as suas lágrimas. A mulher foi feita da costela do homem, não dos pés para ser pisada, nem da cabeça para ser superior, mas sim do lado para ser igual... debaixo do braço para ser protegida e do lado do coração para ser amada".

Play it again, Sam



AS TIME GOES BY

You Must Remember This
A Kiss Is Still a Kiss
A Sigh Is Just a Sigh
The Fundamental Things Apply
As Time Goes By
And When Two Lovers Woo
They Still Say I Love You
On That You Can Rely
No Matter What the Future Brings
As Time Goes By
Moonlight and Love Songs
Never Out of Date
Hearts Full of Passion,
Jealousy and Hate
Woman Needs Man
And Man Must Have His Mate,
That no One Can Deny
It's Still the Same Old Story
A Fight For Love and Glory
A Case of Do Or Die
The World Will Always
Welcome Lovers
As Time Goes By

sábado, 7 de julho de 2007

É CAMPEÃO!


O meu, o seu, o nosso Cristo Redentor, aquele que aponta para uma das minhas janelas, aquele que vi muito deitada na cama do meu paraíso, é uma das Sete Maravilhas do Mundo.

domingo, 1 de julho de 2007

Meu consolo é Graham Greene

A perda, o luto, a mágoa, tudo eclesiástico: "Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou; tempo de matar, e tempo de curar". Um tempo determinado por nós mesmos. Se estendemos o processo, não queremos abrir mão do que nos faz sofrer. A tristeza insuperável é o único elo com o que não optamos por perder, mas que se foi à revelia do nosso desejo.
Entendi isso. Obrigada, Freud. Venho me analisando diariamente para pelo menos o prumo não perder. Chega, não? Minha dor, as lágrimas e a necessidade de consolo - meu mesmo ou de poucos outros - diminuem. Reconheço, porém, que contei com a ajuda do que não vejo, de epifanias, para quem acredita, palavras que apareceram em buscas inconscientes de analgésicos espirituais.
A racionalidade às vezes derrapa no masoquismo, naquela vontade de sofrer para cultivar o objeto da dor. Então, por isso mesmo, revi em DVD "Fim de Caso", adaptação do diretor Neil Jordan para romance de Graham Greene. Assistir ao filme foi como jogar na mega-sena acumulada, quando temos certeza de que não vamos ganhar a bolada, mas passamos horas, dias até, fazendo planos com aquela grana toda - diz uma amiga que temos que jogar logo que acumula, porque se apostarmos no último dia o sonho já sai caro, mesmo para um cartão de R$ 1,50.
A adaptação é belíssima, e os diálogos, bênção para corações partidos. Em vez do rasteiro "ele não te quer mais, senão te procurava", o melífluo "não se precisa ver para amar, afinal as pessoas não vêem Deus e o amam". O filme permite ainda sonhar que as paixões sobrevivem não só nos que levaram o toco, mas também nos que deram, por anos; que o toco não é o fim do caso; que o toco pode ter um motivo nobre; que o 'toqueiro' sofre, às vezes, mais que o 'tocado'; e que as segundas chances são dadas, mesmo que por um breve período, por Deus. E no fim, se tudo for um desengano só, você pode culpar o Senhor e pedir-lhe que se afaste para sempre. Simples assim.

Uma arte



A arte de perder não é nenhum mistério;
Tantas coisas contêm em si o acidente
De perdê-las, que perder não é nada sério.

Perca um pouquinho a cada dia. Aceite, austero,
A chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.

Depois perca mais rápido, com mais critério:
Lugares, nomes, a escala subseqüente
Da viagem não feita. Nada disso é sério.

Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
Lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.

Perdi duas cidades lindas. E um império
Que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.
- Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo
que eu amo) não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser mistério
por muito que pareça (Escreve!) muito sério.

Elizabeth Bishop (Tradução de Paulo Henriques Britto)