sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Traição

Oh my word, what does it mean?
Is it love or is it me
That makes me change so suddenly?
Looking out, feeling free.
Sit here lying in my bed,
Wondering what it was I'd said
That made me think
I'd lost my head,
When I knew I lost my heart instead.
Won't you please read my signs, be a gypsy.
Tell me what I hope to find deep within me.
Because you can find my mind, please be with me.
Of all the better things I've heard,
Loving you has made the words
And all the rest seem so absurd,
'Cause in the end it all comes out unsure.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Cachaça de macumba

Uns dizem que sofrem porque atiraram pedra na cruz. Tenho certeza de que meus tormentos começaram numa esquina de Ipanema, quando subtraí a garrafa de cachaça de um despacho a caminho de uma festa, pencas de anos atrás.
Seguia com meu namorado e dois amigos e não me lembro de quem foi a idéia de desfalcar o ebó da caninha que jazia tentadoramente ali. A ação com certeza foi minha. Incentivada pela embriaguez e pela aventura, queria beber daquela garrafa mágica, que me ofuscava a consciência com seu néon. Mais tarde, percebi na carne as conseqüências de dar golpes em santos e entidades. Sim, sou supersticiosa.
Chegamos trôpegos, eu com a garrafa na mão, à casa na Barão da Torre que seria demolida para a construção de um edifício. A festa, uma das muitas de despedida do local, estava estranha, se desenrolava em câmera lenta. Nós quatro entramos em ritmo de “uhúúú, vamos detonar”, mas os convidados pareciam alheios à nossa presença esfuziante. Olhei para a beberagem enfeitiçada que segurava com um egoísmo desconhecido para mim: “Maneiro, essa cachaça dá o poder da invisibilidade. Ou será que não estamos aqui? Ou será que não estamos em lugar nenhum?”. Pronto. Começava a rolar a paranóia e a vingança do além.
Convoquei uma assembléia rápida com os outros três. Vambora daqui, sentenciei. Mas pra onde?, vacilaram os moços. Linha Branca – pra quem não sabe, era como chamávamos a Pinheiro Machado quando o rumo eram as ladeiras de Santa Teresa via Catumbi.No Golzinho preto do meu namorado, com a garrafa na mão sempre e a cabeça pra fora da janela em busca de ar fresco – a essa altura o estrago do álcool já era sentido em ondas de enjôo –, vi o Rio como o paraíso para desvalidos amantes do goró. Em praias, encruzilhadas ou nas mãos de criaturas que não deram conta de buscar refúgio para curar a manguaça, e abandonaram os corpos na rua, sempre há uma garrafa cheia, ou quase cheia, ou suficientemente cheia para alguém pegar. Divagava, quando a sirene da polícia incomodou meus pensamentos. Em vez, de parar, meu namorado acelerou, efeito da cachaça do ebó. Os homens vieram a toda, mostrando as armas. Nada a temer, éramos invisíveis.
A sirene ficou para trás, a garrafa continuava na mão. Em velocidade na Almirante Alexandrino, rodamos 180° nos trilhos derrapantes dos bondes. A cana voou pela janela, se espatifando no chão. Era o santo cobrando o seu quinhão, enfim.Nunca houve perdão para o pecado distraído de roubar o despacho. As divindades deram o veredicto naquela mesma noite ao meu “crime’: serás alvo da sanha de bêbados e loucos até o fim dos seus dias. Assim foi e assim é.