sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Carta do amor eterno

"Acordei de manhã e pensei em você. Óbvio. Dormi e pensei em você. Meu amor não acaba e tá dentro de mim. O oposto do medo é o amor. Dá pra ser feliz. Um beijo muito enorme pois você é uma pessoa amada pra caralho por mim. Meu coração não te esquece... não te esquece... não te esquece... E gosto desse amar, não me importam por agora as lacunas, ausências, essas coisas. Eu te amo."

Caldos na infância

O assunto era família na troca de e-mails. Na verdade, as mensagens falavam de pêlos e fios de lã que deixamos ou dos arranhões que guardamos quando passamos debaixo dos arames farpados das relações com nossos genitores. Lembrei-me do meu pai, carinhoso, porém adepto do "tem que crescer, tem que se virar".
Eu tinha 6 anos quando me mudei da Ilha para Copacabana. Na Ilha, entrávamos no mar tranqüilamente, pois não há ondas na Baía da Guanabara, exceto um dia ou outro no ano, quando a natureza faz umas marolas por lá.
Copacabana era forte para mim, sempre assustada. Pois meu pai entrou comigo e com o meu irmão no mar e de repente saiu fora e nos deixou lá. Fiquei meio desesperada olhando para ele na areia. Adhemar, dois anos mais velho, ao meu lado, batendo as perninhas para não se afogar, como eu. Então, decidimos que tínhamos que sair, porque meu pai não iria nos pegar, sabíamos.
Levei muito caldo, comi muita areia, mas aprendi a entrar no mar e sair.
Como um bicho que ensina as crias, meu pai mostrou o caminho e os perigos naquele dia e nunca mais repetiu a lição.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Noite de brincadeira

A dupla já desceu do táxi rindo: "Uh, uh, vamo invadir!". Uma porta de ferro trancada, um porteiro eletrônico e uma longa escada eram os obstáculos a transpor para a vitória. O objetivo naquela noite era penetrar na festa. Num primeiro momento, imaginou-se que a aventura seria acobertada pela penumbra dos furdunços noturnos. Mas da calçada já dava para antever o mico. Tudo estava muito claro atrás daquela porta vermelha. Aproveitando uma suposta convidada que chegava, a dupla postou-se à entrada.
- Não voltou subir, não. Vocês podem interfonar.
Entreolharam-se. E agora? Interfonaram.
- É Ana, Lúcia e Claudia. Pode escolher.
Grudadinhas, quase de mãos dadas, como pequenos irmãos assustados, subiram sem respirar. Uma cara desconhecida, é óbvio, as esperava lá no alto. Tudo muito claro. Holofotes acesos como aqueles de filmes antigos que detectam fugas de penitenciárias.
- Ele está naquela sala, podem ir lá.
A dupla se embrenhou para uma sala contígua, vazia, para esconder a cabeça como avestruz e ficar ali até morrer de vergonha.
- Não, naquela outra, ele está lá. Podem ir.
As ordens foram plenamente acatadas pelas crianças travessas e apenas adiaram os planos imediatos de suicídio. Ai, meus sais.
- Entra lá, você que é amiga de Orkut.
- Não sou, não.
- Como????? Não é??? E o que a gente está fazendo aqui. Além de não sermos convidadas, nem conhecemos o aniversariante que vamos ter que cumprimentar e dar beijinho agora??? Vou voltar. Vou dizer que a gente errou de porta, que estava procurando a livraria e se perdeu.
- Não, vamos lá, mas vai você na frente.
Que roubada. Não dava mesmo para recuar, éramos observadas.
Com o milagre da transmutação do sangue em adrenalina, entramos. Quatro, apenas quatro convidados.
(CONTINUA...)

sábado, 17 de novembro de 2007

Só 10%????

Algumas mulheres (10%), próximo orgasmo, expelem uma secreção como os homens. É um líquido claro, às vezes leitoso, ralo e geralmente inodoro. Isso, geralmente, é observado em mulheres que estejam muito excitadas, apresentem múltiplos orgasmos ou aquelas que atingem o clímax através da estimulação vaginal. A secreção ejaculada pode ter de 15 a 200 mililitros e é produzida pelas glândulas parauretrais, que ficam ao lado da uretra e não são visíveis.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Mudei

De tanto te pensar, me veio a ilusão.
A mesma ilusão
Da égua que sorve a água pensando sorver a lua.
De te pensar me deito nas aguadas
E acredito luzir e estar atada
Ao fulgor do costado de um negro cavalo de cem luas.

De te sonhar, tenho nada,
Mas acredito em mim o ouro e o mundo.
De te amar, possuída de ossos e abismos
Acredito ter carne e vadiar
Ao redor dos teus cismos. De nunca te tocar
Tocando os outros
Acredito ter mãos, acredito ter boca
Quando só tenho patas e focinho.

De muito desejar altura e eternidade
Me vem a fantasia de que Existo e Sou.
Quando sou nada: égua fantasmagórica
Sorvendo a lua n'água.
(Hilda Hilst)

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Maggie foi cobrada pela Patrícia Evans

I'm an Emotional Idiot
so get away from me.
I mean,
COME HERE.

Wait, no,
that's too close,
give me some space
it's a big country,
there's plenty of room,
don't sit so close to me.

Hey, where are you?
I haven't seen you in days.
Whadya, having an affair?
Who is she?
Come on,
aren't I enough for you?

God,
You're so cold.
I never know what you're thinking.
You're not very affectionate.

I mean,
you're clinging to me,
DON'T TOUCH ME,
what am I, your fucking cat?
Don't rub me like that.

Don't you have anything better to do
than sit there fawning over me?

Don't you have any interests?
Hobbies?
Sailing Fly fishing
Archeology?

There's an archeology expedition leaving tomorrow
why don't you go?
I'll loan you the money,
my money is your money.
my life is your life
my soul is yours
without you I'm nothing.

Move in with me
we'll get a studio apartment together, save on rent,
well, wait, I mean, a one bedroom,
so we don't get in each other's hair or anything
or, well,
maybe a two bedroom
I'll have my own bedroom,
it's nothing personal
I just need to be alone sometimes,
you do understand,
don't you?

Hey, why are you acting distant?

Where you goin',
was it something I said?
What
What did I do?

I'm an emotional idiot
so get away from me
I mean,
MARRY ME.

domingo, 4 de novembro de 2007

Volta para o mar, oferenda!

A casa do Gláuber é daquelas que nos fazem sentir bem. Pelo grande terraço que ventila e refresca, pelas excelentes músicas do anfitrião-DJ, pela comidinha gostosa que só ele prepara para receber seus convidados, pelas boas conversas inteligentes sem pedantismo, pelas imprescindíveis gargalhadas, pelas anunciadas bebedeiras, pelo carinho do dono. Por tudo isso e pelo que não consigo traduzir, é quase impossível recusar um convite para ir lá, onde já participei de uma das mais memoráveis festas da vida com apenas seis pessoas.
Da cabeça encaracolada do Gláuber saíram idéias geniais como a "Coelhada de Páscoa", que ele mesmo cozinhava no terraço, uma tradição que se foi com a Dani, a mulher que enchia as escadas de colchonetes para fazer um grande tobogã, onde escorregava com nossas crianças. Depois do almoço, chocolates para todos e delírios só para os adultos.
A casa tinha piscina, mas deu infiltração e agora tem mais espaço e um chuveirão. Tudo é bom. Tudo é calculadamente agradável. Ir à casa do Gláuber significa levar idéias e sorrisos embora conosco. Ontem, conversando coisas tristes com a Anna José, ela soltou: "Ah, Ana, esquece, fala assim, ó: 'Volta para o mar, oferenda!'". É isso. A casa do Gláuber é um grande centro de triagem para retornos das oferendas ao mar.

sábado, 3 de novembro de 2007

Travequinha amada

Querida Cris (como Querido Diário),
sei que você não é espiritualista nem esotérica, mas tampouco veste o fardão do materialismo científico, o que lhe faz ter uma posição pertinente a respeito de fatos bobos desse nosso cotidiano que ora conto, ora guardo na preguiça amiga.
Hoje pensei muito em você, nas suas opiniões e na sua risada com o que vou narrar. Estou de plantão, leia-se trancafiada dentro de casa, vendo sites, escarafunchando jornais, cuidando de uma boa cobertura para o nascimento do segundo filho da Angélica - não se compadeça nem gaste sua verve falando do sistema capitalista que nos suga e destrói nossos sonhos, daqui a pouco vou ver os queridos na casa do Gláuber e isso me basta.
Bom, a rotina do plantão manda acordar cedo para comprar os jornais. Acordei quase que mais cedo que os jornaleiros e fiquei perambulando por Botafogo à espera de uma banca aberta com os jornais do Rio e de SP. Aproveitei para caminhar na praia e dei ainda um pulo na igreja, porque gosto de falar com as imagens. Segurei na mão de um lindo Cristo e saí de lá com aquele dom de "ver" em que você não acredita.
Na volta para a banca, carros estacionados, telefones celulares tocando sem parar, tumulto nas ruas à minha frente às sete e meia da manhã. Fiquei zonza. Tentei respirar, mas tiraram meu ar. Quis me escorar, mas não havia paredes nem chão. Pô, Silvona amiga, você diria, fumar um beque antes do café dá nisso, rapá. Não, sem beques, tô limpa. Flutuei na volta para casa, meninos, famílias inteiras ainda dormiam na calçada. Um garoto cheirava cola, olhou para o alto e me viu. Esticou a mão da garrafa com a droga dentro na minha direção, uma oferenda para mim. Tudo em câmera lenta. Torci muito para chegar logo em casa, eu chorava, e a casa chegou a mim. Mas o que você viu, mulher de Deus?, perguntaria a amiga escritora. Na verdade, nada e tudo. Nada do que eu não sabia e tudo que eu escondia do meu coração. Esse mundo dá pena, Cris, e eu estou cansada de lutar com os seus burgas, amiga.