sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Eubiose e as blagues

Se me fossem dados desejos, além de voar e teletransportar, eu queria conhecer o tal do meu superego, essa criatura assustadora onipresente, onisciente, oniapqp. Pintam horrores dos superegos alheios. Dizem que, se deixarem o bicho solto, o caminho é a morte, o prazer total. A coisa é poderosa. Mas a história é outra.
Do mesmo jeito que um dia acordei e vi o Gerson King Combo na minha frente - ele saiu da noite para me dar bom dia -, hoje fui parar em sonho dentro do blogue de blagues de um conhecido. Estava lá na minha cabeça como título de um post: "Eubiose". Sim, sabia que existia uma sociedade disso aí, mas nem sabia o que significava e muito menos entendi por que a criatura superego associou a palavra ao blogue e ao conhecido. Resolvi investigar. Está lá no Google:
Frase: "SPES MESSIS IN SEMINE (A ESPERANÇA DA COLHEITA RESIDE NA SEMENTE)". Hmmm... Não entendi.
Fui além na wikipédia: "É uma palavra criada pelo teósofo brasileiro Henrique José de Souza, a partir das raízes gregas Eu (eús, eú, bom, bem), bio (bios, vida) e -ose (osis, processo, ação, condição). Eubiose, portanto, significa: ação, processo ou condição de bem viver. "
Ah, tá. Mas que diabos eubiose tem a ver com as blagues? Foi uma mensagem subliminar? Valei-me, São Freud.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Ajuda teu irmão que Deus vai te ajudar




Ele parecia o modelo de Portinari para pintar O Lavrador de Café. Os pés no chinelo velhíssimo eram enormes, desproporcionais. Quando olhei, vi que rezava com fervor diante de um quadro de Santo Antônio. Ele percebeu. Virou-se para mim e me mostrou o braço machucado. "Toma, moça", disse, entregando-me um santinho de São Judas Tadeu. Logo o meu "seu Judas", poderoso com os rubro-negros e com os que querem soluções para casos impossíveis. "Reza por mim, que tô fazendo hemodiálise. Ajuda teu irmão que Deus vai te ajudar"", disse triste. Naquele momento, naquele convento, a frase ecoou. E rebateu no coração. Haviam acabado de me negar a mão, eu estava com febre, nauseada, insone, uma zumbi sem mato. Ajuda teu irmão. Abracei aquele irmão em pensamento, solidária na miséria, igual no abandono, enquanto o via se afastar, seguido por uma mosca, para se postar diante da cruz.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Um dia Antônio Maria total

"Às vezes, me sinto muito só. Sem ontem e sem amanhã. Não adianta que haja pessoas em volta de mim. Mesmo as mais queridas. Só se está só ou acompanhado, dentro de si mesmo. Estou muito só hoje. Duas ou três lembranças que me fizeram companhia, desde segunda-feira, eu já gastei. Não creio que, amanhã, aconteça alguma coisa de melhor."

Oração - Antônio Maria (1954)

"Rosinha Desossée, me tire desse quarto de hotel e de todas as coisas que entram pela janela; me leve para longe das palmeiras, mais longe e perto das coisas mais macias; me faça esquecer (depressa) os homens ruins — isto é: os que gostam de cebola crua; me ensine, Rosinha Desossée, tudo o que eu não aprendi: a cortar com a mão direita, a usar anel, a tocar piano, a desenhar uma árvore e valsar; e me lembre do que eu esqueci — raiz quadrada, (as mais ordinárias), frações, latim, geofísica e "Navio Negreiro", de Castro Alves; depois, me dê, pelo bem dos seus filhinhos, aquilo que eu não tenho há quase um ano, carinho — de um jeito que eu não sei dizer como é, mas que há, por aí ou, pelo menos, já houve; destelhe a casa, deixe a noite entrar e, juntos, vamos nos resfriar; espirre de lá, que eu espirro de cá... agora, cada um com a sua bombinha, inalação, inalação; lado a lado, sentemos, os dois de perfil para o ventilador; minhas mãos e as suas não são de ninguém, entendido?; se interesse por mim e pergunte o que eu sei, que eu quero exclamar, no mais puro francês: "oh!"..."comment allez vous"? (...) de um jeito ou de outro, me tire daqui, pra Pérsia, Sibéria, pro Clube da Chave, pra Marte, Inglaterra, sem couvert, sem couvert; está vendo o retrato dos meus 20 anos? de lá para cá, cansaço, pé chato, gordura, calvície fizeram de mim essa coisa ansiosa, insegura e com sono, que pede a você, no auge do manso: você, Desossée, não saia esta noite e fique, ao meu lado, esperando que o sono me tome e me mate, me salve e me leve, por amor ao teu andar, assim seja..."

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Pensata

Fui criada dando valor às palavras. Primeiro queria empregá-las certo. Depois, escrevê-las corretamente. Aprendi que uma pode ter vários significados, então comecei a brincar com elas, divertir-me. Meu pai ensinou-me a profundidade que podem ter, trazendo alegria, machucando, fazendo o interlocutor de bobo. Por isso, orientou-me a não mentir. Ouvi atentamente as palavras dele, como ouço as de todos, até porque são meu ganha-pão. E analisando meu amor às letras que se unem para formar nomes e significados de qualquer coisa ou sentimento penso em como essa vida seria melhor se houvesse um apego ao que se diz ou escreve sem estar com cabeça quente. Imagine o paraíso: discursos de campanhas cumpridos e um mundo só de seres preocupados em levar a sério expressões como "não vou ferir você nem magoar", "acredite em mim", "conte comigo", "pago assim que receber" e tantas, tantas mais.
Quem joga palavras ao léu e diz que é coisa de momento assina embaixo de (des)enganos. É melhor pensar duas vezes antes de reclamar quando se sentir lesado.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Foi um rio que passou em minha vida...


Ah, minha Portela!
Quando vi você passar
Senti meu coração apressado
Todo o meu corpo tomado
Minha alegria voltar
Não posso definir aquele azul
Não era do céu
Nem era do mar
Foi um rio que passou em
Minha vida
E meu coração se deixou levar...

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Me beija que não sou cineasta, mas poeta


Chegou no bloco e na bucha e me recitou um poema ao pé do ouvido no Baixo Gávea. "Hmmmm... é assim, assim", eu disse. "Mas fiz para o bloco, sou poeta. Você não gostou?", perguntou-me Chacal. "Sei que é poeta. Já li coisas melhores suas", fui sincera. "Então deixa eu dizer outro: 'Quero que você me beije e a quaresma me deixe.'" "Não. Não gostei". Levei um tapa de brincadeira na mão com a força descontrolada dos ébrios, antes do afago de desculpas. Tudo certo, Chacal, colou com outras e outros que respiram. Neste momento, faço meu seu verso: quero que a quaresma me deixe.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Do Cadu

VÃOS ENTRE OS DEDOS

Entre os dedos das mãos
Vão-se os anéis
Ficam os medos
Gestos presos
Vãos entre os dedos
No entrelace das mãos
Os gestos são grãos
Escorrendo
nas frestas dos dedos
Entre a boca e a orelha
o vão é da língua
O hálito quente
transmite o segredo
A mordida o dente
A saliva a centelha
No ar a resposta
No segredo a proposta
Teus vãos,
Como é bom preenchê-los!
Percorrer teus relevos
Morder os teus lábios
Cheirar teus cabelos
Cafunés sem anéis
P'ra que quero anéis
Vamos entrelaçar mãos
Pensar que os medos
Vão-se entre os dedos

Imagens do carnaval














terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

O-cultismo

Glamour, por mais que pareça francês, tem origem anglo-saxônica. Só para quem quiser aprender:
Glamour: 1720, "magic, enchantment" (especially in phrase to cast the glamour), a variant of Scot. gramarye "magic, enchantment, spell," alt. of Eng. grammar (q.v.) with a medieval sense of "any sort of scholarship, especially occult learning." Popularized by the writings of Sir Walter Scott (1771-1832). Sense of "magical beauty, alluring charm" first recorded 1840. Glamorous is 1882 (slang shortening glam first attested 1936); glamorize is 1936.