sexta-feira, 28 de março de 2008

VOLTA TUDO AO QUE ERA ANTES


ADIADA AD INFINITUM A IMPLOSÃO.
BREVE, AQUI, POST SOBRE O BAILINHO, A GRANDE SENSAÇÃO DOS DOMINGOS IPANEMENSES.

Contagem regressiva: nostalgia

segunda-feira, 24 de março de 2008

Finda a quaresma/Fim da quaresma

Canção
(Cecília Meireles)

Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar

Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...

Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.

domingo, 16 de março de 2008

De Patrícia Evans

PROMESSA

Vou te amar,
não como Ulisses amou Penélope,
Romeu, Julieta.
Jamais um amor de Otelo
ou Orfeu,
porém, nada menos incisivo;
vou te amar como Narciso.

quinta-feira, 13 de março de 2008

A Arte de Esquecer (extraído do Boletim Contato do IEA/USP)

"Somos aquilo se que nos lembramos", disse o pensador italiano Norberto Bobbio. O neurocientista Iván Izquierdo concorda, mas acrescenta: "Somos também aquilo que decidimos esquecer".
Segundo Izquierdo, que atualmente trabalha no Centro de Memória do Instituto de Pesquisas Biomédicas da PUC-RS, o ser humano esquece para poder pensar, não ficar louco, conviver e sobreviver. Caso contrário, todos seriam como Funes, personagem do conto de Jorge Luis Borges "Funes, o Memorioso", várias vezes citado por Izquierdo. Funes era capaz de lembrar absolutamente tudo que vivenciara. E como sua mente se saturava com lembranças minuciosas sobre tudo, era incapaz de fazer generalizações e, portanto, de pensar.
Assim como é fundamental exercitar a memória (sobretudo com a leitura, recomenda Izquierdo), para que as sinapses (conexões entre os neurônios) se consolidem e possibilitem a evocação de memórias, é preciso praticar a arte de esquecer para uma vida com maior bem-estar: "A arte de esquecer, como todas as artes, depende de sutilezas, contém muito de involuntário, e pode ser utilizada para o bem ou para o mal do próprio indivíduo".
A memória de trabalho é aquela utilizada para entender a realidade que rodeia o indivíduo, com o processamento imediato das informações recebidas, para a formação e evocação da memória de curta duração, que dura algumas horas, e da memória de longa duração, que dura dias, anos ou décadas.
A arte de esquecer deve ser aplicada para o bom funcionamento da memória de trabalho, na qual esquecer é parte da função, para que haja "o bloqueio sensato do excesso de informações que às vezes nos inunda".
Outro recurso é a falsificação de memórias, que o cérebro às vezes produz como um mecanismo de defesa, para nos sentirmos melhor com uma lembrança parcial ou distorcida de algúem ou de algo, no lugar dos aspectos desagradáveis ligados a esse alguém ou algo.
Há também a repressão, o esforço consciente ou inconsciente feito para não recordar continuamente ou fora do momento oportuno episódios dolorosos, humilhantes ou aterrorizantes.
A extinção e duas formas próximas a ela, a habituação e a diferenciação, muitas vezes não levam ao total esquecimento, mas refletem a arte de cancelar respostas já inúteis. O neurocientista explica que essa atitude pode ter enorme valor terapêutico no tratamento de fobias, pânico, angústia generalizada, estresse pós-traumático e outras doenças psiquiátricas.
O quinto componente da arte mencionado por Izquierdo é a chamada dependência de estado, em que o cérebro se reserva o direito de responder só quando estiver novamente sob a influência de determinado estado neuro-humoral e hormonal: "Serve, entre outras coisas, para trazer à tona formas de resposta ao medo só na presença de situações que as exijam".

Alguma coisa está fora da ordem

Li do Calligaris: "A mentira, num mundo opressivo, é uma forma aceitável de resistência."

quarta-feira, 12 de março de 2008

Arrumação de gavetas



Moldei seu corpo em brisa à beira-mar e ocupei o espaço, contrariando a física tradicional. A apnéia se foi, enquanto respirei você em breve viver. Mas o rosa fugiu do céu. Hora de trabalhar.

segunda-feira, 10 de março de 2008

De Anna Azevedo

SONHO, O TEMPO NOS LEVA.
DEIXEMO-NOS LEVAR,
É SUAVE...
FEITOS SOMOS DA MESMA MATÉRIA,
SIM, CORREMOS EM DIREÇÕES OPOSTAS ,
PORÉM,
NÃO, NÃO, VELHO AMOR, NÃO CHORE.
O BEIJO, DEIXE QUE DURE,
ESTA GOTA EM SEU OLHAR ,
QUE A BRISA SEQUE,
DEIXE, É SUAVE, ASSIM...
CESSA, A DOR, EM VENTO BREVE ,
VERÁS, O ENCONTRO, SEM MAIS A PRESSA,
VIRÁ, POIS ELA GIRA, GIRA, GIRA,
A TERRA E ENFIM, VELHO AMOR,
NA MESMA DIREÇÃO,
OLHE, PEGADAS NA TERRA ÚMIDA, AS NOSSAS.
NÃO, NÃO, NÃO SOFRA.
É BRANDO, O TEMPO, O VENTO QUE VAI... E VOLTA
ETERNA-MENTE.
JÁ QUIS REINVENTAR, DOBRAR A ESQUINA,
MAS ELA GIRA, GIRA, GIRA.
POR ENQUANTO: GUARDE O BEIJO QUE LHE DEI.

Show do Bob Dylan e um Prozac


domingo, 9 de março de 2008

Rasgue o coração.
Veja escorrer quente
o tormento.
Resistirei pátrio,
impávido
lívido
na fibra exangüe.
Não me fiz
de matéria presente
Sou ancestral
nessa cavidade
Éter do pensamento
Elo
Corrente
Cadeia
Até o infinito
da nossa agonia.

domingo, 2 de março de 2008

O Bom-dia do Haroldo

Enquanto meu coração suspirava por amores platônicos na infância/adolescência, eu me remediava nos dramas alheios. Todo os dias, às nove da manhã, ouvia o "Bom-dia", do Haroldo de Andrade. Era uma adicta. Depois da música de abertura - o Concerto para Piano nº1, de Tchaikovsky, forte para criar um clima, o radialista contava a história de um/uma ouvinte desesperado(a) que havia mandado uma carta ao programa. Era mais ou menos assim o começo: Há pessoas que acreditam que o dinheiro compra tudo: felicidade, desculpas, consciência. Que não conseguem enxergar a delicadeza da amizade, a dor do irmão, a importância da solidariedade. É disso que nos fala a carta do meu ouvinte de Madureira, fulano de tal...
Então, vinham as histórias: eram mães que abandonavam os filhos, mulheres traídas, velhinhos largados à própria sorte, gente despejada, pessoas doentes, as situações mais melodramáticas possíveis. No fim, Haroldo consolava de algum jeito, tipo assim: "Para você, sicrano, na esperança de que a tranqüilidade volte ao seu coração e que você possa ser perdoado pelo beltrano, o meu abraço, a minha amizade e este bom-dia...". E subia o som da música de Tchaikovsky.
Eu vibrava, adorava mais do que novela. O "Bom-dia" me fazia chorar, olhar para cada rosto na rua como um possível ouvinte, esquecer as minhas bobagens, inventar. O quadro, que abria Programa Haroldo de Andrade, falava de gente real, desprezada, angustiada, agonizante. O locutor era passional, não apenas relatava, mas afagava a vítima e apedrejava o vilão da carta em pleno ar. Era o máximo.
Depois que fui estudar de manhã, no científico, não ouvi mais, nem sei se o quadro continuou. No decorrer da vida, colecionei alguns poucos, mas agora sim verdadeiros, dramas para contar ao Haroldo e receber aquele emocionado bom-dia. Mas Haroldo se foi no fim de semana. Fica mais uma saudade de chorar na minha memória infantil.

sábado, 1 de março de 2008

Lindo

Lições de Vivência 1

Meus filhos nunca chuparam chupeta. Não dei pelo simples motivo de que acho horrível viciar crianças naquele plástico e depois, num belo dia, dizer a elas que é hora de jogar o segundo objeto do desejo que conheceram - o primeiro é o peito - no lixo, ou dar para o papai noel em troca de brinquedos (alguns pais criminalmente afanam e escondem a chupeta e botam a culpa em qualquer coisa, deixando lá os pequeninos a se esgoelarem). Há bebês, como os meus foram, que não querem substituir o bico quentinho, macio e de cheiro conhecido do seio por um látex qualquer. Ah, não, de jeito nenhum. Então os genitores desses rebeldezinhos enganam, falseando a borracha com mel, açúcar, funchicória. Se mesmo assim, adoçada, os pequenos senhores de si desdenharem a artimanha e cuspirem a chupeta, papai e mamãe ensinam aos filhinhos amados a primeira lição sobre o mundo cruel: manda quem tem mãos fortes e poder. Com a delicadeza dos dominadores contrariados, atocham o objeto na boca da criança e ficam lá segurando para evitar que a língua inconformada do neném o atire ao chão. O bebê, cansado, entende a mensagem. Aceita. Com o tempo, assim como a síndrome de Estocolmo, acaba pegando amizade, amor, naquela coisa. Alguns dão até nome à chupetinha, mais tarde, com um aninho e pouco. Então, tchau. Hora de acabar a brincadeira e aprender a segunda, ou terceira ou quarta lição do mundo cruel, porém muito importante e sofrida: afetos são descartáveis. Crescemos carregando a dor da perda. E nunca mais nos livramos dela.