sábado, 1 de março de 2008

Lições de Vivência 1

Meus filhos nunca chuparam chupeta. Não dei pelo simples motivo de que acho horrível viciar crianças naquele plástico e depois, num belo dia, dizer a elas que é hora de jogar o segundo objeto do desejo que conheceram - o primeiro é o peito - no lixo, ou dar para o papai noel em troca de brinquedos (alguns pais criminalmente afanam e escondem a chupeta e botam a culpa em qualquer coisa, deixando lá os pequeninos a se esgoelarem). Há bebês, como os meus foram, que não querem substituir o bico quentinho, macio e de cheiro conhecido do seio por um látex qualquer. Ah, não, de jeito nenhum. Então os genitores desses rebeldezinhos enganam, falseando a borracha com mel, açúcar, funchicória. Se mesmo assim, adoçada, os pequenos senhores de si desdenharem a artimanha e cuspirem a chupeta, papai e mamãe ensinam aos filhinhos amados a primeira lição sobre o mundo cruel: manda quem tem mãos fortes e poder. Com a delicadeza dos dominadores contrariados, atocham o objeto na boca da criança e ficam lá segurando para evitar que a língua inconformada do neném o atire ao chão. O bebê, cansado, entende a mensagem. Aceita. Com o tempo, assim como a síndrome de Estocolmo, acaba pegando amizade, amor, naquela coisa. Alguns dão até nome à chupetinha, mais tarde, com um aninho e pouco. Então, tchau. Hora de acabar a brincadeira e aprender a segunda, ou terceira ou quarta lição do mundo cruel, porém muito importante e sofrida: afetos são descartáveis. Crescemos carregando a dor da perda. E nunca mais nos livramos dela.

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