quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Noite de brincadeira

A dupla já desceu do táxi rindo: "Uh, uh, vamo invadir!". Uma porta de ferro trancada, um porteiro eletrônico e uma longa escada eram os obstáculos a transpor para a vitória. O objetivo naquela noite era penetrar na festa. Num primeiro momento, imaginou-se que a aventura seria acobertada pela penumbra dos furdunços noturnos. Mas da calçada já dava para antever o mico. Tudo estava muito claro atrás daquela porta vermelha. Aproveitando uma suposta convidada que chegava, a dupla postou-se à entrada.
- Não voltou subir, não. Vocês podem interfonar.
Entreolharam-se. E agora? Interfonaram.
- É Ana, Lúcia e Claudia. Pode escolher.
Grudadinhas, quase de mãos dadas, como pequenos irmãos assustados, subiram sem respirar. Uma cara desconhecida, é óbvio, as esperava lá no alto. Tudo muito claro. Holofotes acesos como aqueles de filmes antigos que detectam fugas de penitenciárias.
- Ele está naquela sala, podem ir lá.
A dupla se embrenhou para uma sala contígua, vazia, para esconder a cabeça como avestruz e ficar ali até morrer de vergonha.
- Não, naquela outra, ele está lá. Podem ir.
As ordens foram plenamente acatadas pelas crianças travessas e apenas adiaram os planos imediatos de suicídio. Ai, meus sais.
- Entra lá, você que é amiga de Orkut.
- Não sou, não.
- Como????? Não é??? E o que a gente está fazendo aqui. Além de não sermos convidadas, nem conhecemos o aniversariante que vamos ter que cumprimentar e dar beijinho agora??? Vou voltar. Vou dizer que a gente errou de porta, que estava procurando a livraria e se perdeu.
- Não, vamos lá, mas vai você na frente.
Que roubada. Não dava mesmo para recuar, éramos observadas.
Com o milagre da transmutação do sangue em adrenalina, entramos. Quatro, apenas quatro convidados.
(CONTINUA...)

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