quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Blecaute interior

Subo a pé os sete andares até meu apartamento. Corro jamaicanamente das lembranças inquietantes que o blecaute na cidade me causa, mas sou ultrapassada e bloqueada por elas. Vejo-me na mesma cena, em outra época. O calor, a falta de luz, a escada, a falta de ar, as elucubrações, a falta de você. Voltava da rua sozinha, enquanto um dilúvio escurecia e encharcava as ruas. Havíamos combinado assistir ao show da Rita Lee. Você não apareceu. Da porta do Canecão, debaixo de chuva, liguei enlouquecida para seu celular umas 380 vezes. Enquanto isso, já ia me imaginando lá dentro, esgoelando-me junto com a ruiva nos versos "juro que não vai doer se um dia eu roubar, o seu anel de brilhante, afinal de contas dei meu coração, e você pôs na estante...". Blergh. Graças ao breu total, a apresentação foi impossível naquele sábado.
Coração apertado, lágrimas misturadas à chuva, me arrastei miseravelmente até minha casa com dois ingressos válidos para o dia seguinte e dormi o sono pesado que nos defende da dor.
Você me ligou de madrugada. Não atendi. De manhã cedo. Suspirei um alô. Havia pedidos de desculpas na voz ainda embriagada, "foi meu apagão, amor", e palavras apaixonadas. Sim, eu ainda o queria por mais um breve tempo.

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