quarta-feira, 6 de junho de 2007

Eu só quero é ser feliz...




Duzentos e quarenta horas sem voz, sem letrinhas, sem carne. A falta dele esmaga, altera a vida. Desabafo minha angústia em preces solitárias no altar que imagino na minha cama. Há todo um método. Janela aberta, luz, santinhos em ordem: Santa Rita, São Judas Tadeu, Santo Antônio, Nossa Senhora Desatadora dos Nós, São José. Meus deuses, o que faço com essa saudade toda? A religião sempre esteve presente em nossas trocas. A última frase que ouvi dele: Deus te abençoe. Religião, do latim re-ligare, religação. Não dá, não.


Lamento a minha coitadice. Dez dias de condenada, sofrendo com o encarceramento dos sentimentos, riscando pauzinhos na porta do quarto, imaginando quantos serão necessários para a paz que trazem o esquecimento e o desapego. Estabeleci como meta de cura 1.200 horas, menos de dois meses, acho que está de bom tamanho para a tristeza. Processo rapidamente todos os sentimentos. Tenho dormido, em média, três horas e meia. Também não como direito porque ainda rumino suas palavras pesadas.


Ele me pediu a liberdade como prova de amor. "Se eu amo alguém, quero que seja feliz mesmo longe de mim". É isso que estou fazendo, é a minha prova de amor a ele, a prova de amor que ele não soube me dar quando tantas vezes, antecipando esse desfecho siberiano, pedi que me deixasse sair em paz da relação. Ele sempre voltava com músicas, declarações, ligações na madrugada. Agora entendo por quê. Não era amor, mas uma variação disso sem nome.


Choro na rua, no quarto, no trabalho, no banho (muito no banho, pelo desamparo da nudez e pela água). O caminho para chegar ao jornal é uma maratona de recordações. Se vou pelo Túnel Santa Bárbara, passo em frente ao prédio dele, e, se não der a sorte de o sinal estar fechado, na porta do Snob - tão freqüentado por nós, que a recepcionista até nos dava a chave do mesmo quarto, sem perguntar nada. Pela Mem de Sá, pago mais caro e me encho de saudade do cabrito do Capela. Tudo ficou para trás, mas carrego as lembranças como um rabo, não consigo arrancar, fazem parte do que eu sou.

6 comentários:

Cristiana Soares disse...

Ah, se todo sofrimento gerasse um texto lindo desse...

Adorei o seu método mil e duzentas horas de cura.

Ana Sílvia, minha linda, seja bem-vinda a blogosfera. Só faltava você.

Beijos da tua amiga

Cris

Cristiana Soares disse...

Falando em chorar no banho, lembrei de um texto que postei no meu blog, "Chorar no Chuveiro":

http://blogtalk-cristiana.blogspot.com/2006/08/chorar-no-chuveiro.html

Quando puder, leia.

Ana Silvia Mineiro disse...

Obrigada, Cris. Só para reforçar: o limite é de 1.200 horas. Mais do que isso é recorrer à morfina ou ao harakiri.
Beijos

Claudia disse...

amada minha, parece q nossa sintonia eh sem fim... diferenças existem, mas sao pcas... uma delas eh das 1200 hs... nem pensar!!!! 1 ou 2 semanas jah tah d bom tamanho!!! enfim, dia dos namorados to nessa contigo, vamos nos abraçar mto e dizer "Eu te amo" pq eh sincero!!!! E fuck all, e viva as vaquinhas!!!
tiamu!!

Anônimo disse...

InSana
In
Sana
Sana, Silvia, sana
Parece que está sanado
Sana, Silvia, sana !
O insano é sano !
Sana, Silvia, sana!

Ana Silvia Mineiro disse...

Meninas, vcs são o máximo.
Claudinha, espero sinceramente que role neste fim de semana para você um cabra maravilhoso para não ter que passar comigo o Dia dos Namorados. Soninha, que é mais afoita, tô sabendo que está se arrumando.