quinta-feira, 7 de junho de 2007

Sou que nem cangambá: não corro nem dou lugar

Em Paragominas, uma cidade a 300 quilômetros de Belém, vive uma mulher que foi abençoada pela sabedoria do empirismo, da observação. Não crescesse, casasse, tivesse filhos, netos e bisnetos analfabeta, Dona Raimunda Nonata seria poeta de livro, suas palavras estariam espalhadas por aí.
Raimunda não foi para a escola porque seu pai achava que ela queria aprender a escrever para mandar cartinhas de amor aos moços. Tinhosa, mostrou que toda dominação é burlada facilmente. "Eu sou que nem cangambá: não corro nem dou lugar", definiu-se. Ela não se alfabetizou, mas pediu a amigas que escrevessem as cartas sapecas a quem desejasse que a cortejasse.
No ano passado, aos 93 anos, apesar do glaucoma e da catarata, entrou pela primeira vez na vida em uma sala de aula. Voz alegre, justificou: "Quero ler o mundo e ter menos bocas faladas". Raimunda não estava cansada das pessoas, nem nada, queria mesmo era o silêncio reflexivo, só desejava brincar sozinha com o seu pensar.

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