segunda-feira, 27 de agosto de 2007

O não-amor

Às vezes me pego cheia de pudores para escrever coisas sobre sentimentos, apesar de este blogue ter começado como o diário das 1.200 horas para me curar de um pancadão na cabeça, no tronco e nos membros. A maioria desse tempo foi parar no rascunho, porque ninguém merece chororô alheio, mas ainda há muitos minutos espalhados por aqui de tristeza e emoção. E nessas coisas de ter vergonha de escrever, mas não ter de falar, surgiu a expressão "não-amor" na conversa em um skype capenga.

O não-amor é o amor micareta, fora de época, dos senões, dos desencontros. Um ama e o outro, também. Só que não da mesma forma. Um ama para namorar e o outro, para admirar. Um ama já, o outro tem que descasar. Um quer ir para o motel, o outro prefere passar o tempo em conversas e gargalhadas amigas. Um adora viajar e o outro só pode ficar.

O não-amor não vira a página e o seguir adiante é sempre olhando para trás, com preocupação e raiva das não-realizações quando tudo poderia ser perfeito. Por isso, você purga suas lembranças dobradas, amareladas, guardadas dentro de caixas ilusórias de papelão ou de entrada de mensagens - elas ficarão lá para sempre porque não houve nem haverá motivos para eliminá-las. É quase o "amor contrariado" do García Márquez. Quase. Para ser, precisava provocar sobressaltos, e não tristeza e pena.

4 comentários:

Cristiana Soares disse...

Lindo post, Ana Sílvia...

O não-amor é aquilo que poderia ser mas não é... é pior talvez do que o desamor. Pois ele abre uma possibilidade e te faz lembrar que o amor existe. Isso não é cruel?

Ana Silvia Mineiro disse...

Isso. Era o que tinha que me lembrar. Que o amor existe, mas não é possível.
Sim, isso é pior que o desamor, que a rejeição, que nos fazem agir de alguma forma.
Não há ação para o não-amor.

Claudia disse...

Não há razão para o não-amor, assim como não há razão para o amor e o desamor. Acho q todos simplesmente acontecem.
O amor p mim é o q vc disse, olha p frente, constrói.
O não-amor realmente olha p trás, pro q poderia ter sido. Cruel sim, mto cruel. E num mundo tão desencontrado, tão sem coragem p amar, o não-amor tem virado um hábito p muitos.
Até o desamor olha p frente pq é preciso coragem p dizer q acabou, é preciso força d vontade p encerrar um ciclo e seguir em frente zerado.
O não-amor num zera, vive sempre à sombra do q poderia ter sido e não foi...

Claudia disse...

Perdi a Carta Fênix... meus filhotes bagunçaram o PC antigo e foi-se... snif
Se por algum milagre, vc tiver guardado, me manda, please!!
bjksssss