Dia desses, uma amiga me ligou enfurecida, reclamando que estava sendo tratada como "comidinha" do moço lá com quem sai. A história deles havia começado num bar. Ele olhou pra ela, foi atrás, pediu o telefone. Ela até pensou em dar o número errado, mas foi só um pensamento, quem sabe intuição. Ele ligou, passaram a sair. Da apatia inicial, minha amiga entrou em um estado de enternecimento, encantamento, quase paixão. O moço é bom no que faz.
Não precisou muito para ela reparar que ele não a levava para sair com os amigos dele (olha que ela é bonitona). Começou a furar programinhas básicos, tipo cinema, passeio, e não queria muito contato com a família dela. Só não furava os dias de lesco.
Um amigo dela disse que o moço voluptuoso nunca havia prometido nada, muito pelo contrário, tinha sido claro ao escrever em e-mail sobre uma história de "meu mundo, seu mundo", "gosto de parte sua, mas outra ainda não consigo digerir", coisas assim. Isso quando tentava ser racional. Na paixão, mandava fotinhas, torpedos amorosos, seduzia o tempo todo - apesar da "outra parte" dela, da qual não queria nem chegar perto, como se ela pudesse arrancar pedaços invisíveis de si, libras das suas vivências, sem deixar de ser quem é.
Minha pergunta para homens assim é: e se fosse com sua filha, sua mãe, sua irmã?
Como será que esses tipos iriam se referir a um sujeito que ignora a sutileza dos sonhos dos outros? O mundo é só dividido entre os espertos e os manés? A mulher - ou o homem - que se envolve com indicações de romantismo é apenas otária(o)? O sonhador é um idiota?
Ando meio cansada desse egoísmo emocional.