Começas a criar asas e me deixar. Deixo-te me deixar. Não me esforço mais para prender tuas palavras comigo. Sim, isso é amor. Deves voar. Talvez nem te lembres mais de mim, a não ser das palavras indignadas, quando deverias salvar-me, como tantas vezes corri para salvar-te. Não cobro, apenas idealizo. Como idealizei mãos nossas se entrelaçando. Não eram as minhas, mas outras tocando teu corpo. Soube. Sempre sei. Chorei. Não digo que passou, mas meus beijos já foram de outro sem culpa. Nem foi tão difícil assim como eu supunha, já que tu respiras em outro pescoço poemas enamorados de Drummond em um livreco chinfrim ao lado da cama.Desperdício. Ela não conhece Louise Bogan, certamente. Ela não falará a ti de fé, não terá atitudes de Maggie Estep. Mas tu terás a paz que querias, a ausência de questionamentos. Sinto-me feliz por ti, mas confesso que não te desejo feliz por ora. Não sou hipócrita. Talvez em outro dia. Em outro amanhã. Não guardes raiva. Somos humanos, pois não? Jesus maldisse os vendilhões, secou a figueira sem razão. Também eu tenho ira. Também tu falas o que não deves. Magoas como eu magoo. Mas temos a tendência de olharmos apenas para as nossas feridas.
Use tuas asas da meditação agora.
Distancia-te do mundo e de ti.
Sinta todas as tristezas enlouquecedoras.
E tenha piedade de todos nós.
domingo, 20 de setembro de 2009
"És agora apenas uma fotografia ao lado da minha insónia. Uma memória que me fala sobretudo, como todas as memórias, daquilo que nunca existiu. Nesta fotografia te esqueço. Meticulosamente, de cada vez que me esforço para reter-te e começo a inventar-te. Tudo em ti tem asas, agora - o teu riso, os teus passos. Até nas poucas frases que de ti recordo há um restolhar de penas. E deslizo para esta solidão demasiado humana de não poder voltar a ser sozinho, como era quando tu existias, nesta mesma cidade, e eu já nem sequer pensava em ti."
Fazes-Me Falta
Fazes-Me Falta
suspiros
Well I'll be damned
Here comes your ghost again
But that's not unusual
It's just that the moon is full
And you happened to call
And here I sit
Hand on the telephone
Hearing a voice I'd known
A couple of light years ago
Heading straight for a fall
As I remember your eyes
Were bluer than robin's eggs
My poetry was lousy you said
Where are you calling from?
A booth in the midwest
Ten years ago
I bought you some cufflinks
You brought me something
We both know what memories can bring
They bring diamonds and rust
Well you burst on the scene
Already a legend
The unwashed phenomenon
The original vagabond
You strayed into my arms
And there you stayed
Temporarily lost at sea
The Madonna was yours for free
Yes the girl on the half-shell
Would keep you unharmed
Now I see you standing
With brown leaves falling around
And snow in your hair
Now you're smiling out the window
Of that crummy hotel
Over Washington Square
Our breath comes out white clouds
Mingles and hangs in the air
Speaking strictly for me
We both could have died then and there
Now you're telling me
You're not nostalgic
Then give me another word for it
You who are so good with words
And at keeping things vague
Because I need some of that vagueness now
It's all come back too clearly
Yes I loved you dearly
And if you're offering me diamonds and rust
I've already paid
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
Pequeno alívio. Com moderação.
Hoje foi dia de pensar com carinho em você, não ontem, assim como não será amanhã. Guardei esta quinta-feira para a alegre saudade. Aquela dos presentes inusitados que só podiam sair da sua caraminholice, como uma bolsa cheia de lingeries estranhas que nunca mais usei. A da minha chegada ao Galeão com você à espera tendo nas mãos um papel com tremidas letras cor-de-rosa formando a palavra VACA. A de você fingindo ser minha filha em trocas de torpedos no hospital, onde ela, totalmente combalida, preferiu ficar dentro da emergência com você, enquanto eu aguardava os dois do lado de fora. A dos cem reais gastos em uma orgia de doces - gula que nos valeu pesos extras na consciência e no corpo. A das impressionantemente pacíficas noites no vale, você traduzindo e eu no meu quarto de vídeo - estarei lá sempre, dê uma olhada. A da foto no prato do Pão de Açúcar. A do motorista de táxi o confundindo com Wanderley Cardoso. A dos seus escritos encalacrados e divertidos no total sem-sentido deles - este é você! A das missas do frei Clemente às terças-feiras no convento de Santo Antônio, você enxugando minhas lágrimas emocionadas. A do café no Starbuck's. A da nossa compulsão de compras nos passeios em São Paulo. A das caminhadas com direito a muita cosquinha pelo Aterro... Pacotes de felicidades entremeados com... deixa pra lá, me esqueci.
Reservo este prazer só para hoje. E me alegro um pouco. Mais do que isso costuma fazer mal, adverte o Ministério da Saúde.
Reservo este prazer só para hoje. E me alegro um pouco. Mais do que isso costuma fazer mal, adverte o Ministério da Saúde.
sábado, 12 de setembro de 2009
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
De manha, à tarde e à noite, ardo
quarta-feira, 9 de setembro de 2009
Retiros Espirituais - Gil
Nos meus retiros espirituais,descubro certas coisas tão normais
Como estar defronte de uma coisa e ficar
Horas a fio com ela, bárbara, bela, tela de TV
Você há de achar gozado Barbarela dita assim dessa maneira
Brincadeira sem nexo que gente maluca gosta de fazer
Eu diria mais tudo não passa dos espirituais sinais iniciais desta canção
Retirar tudo o que eu disse, reticenciar que eu juro
Censurar ninguém se atreve
É tão bom sonhar contigo, oh, luar tão cândido
Nos meus retiros espirituais descubro certas coisas anormais
Como alguns instantes vacilantes e só
Só com você e comigo, pouco faltando, devendo chegar
Um momento novo, vento devastando como um sonho
Sobre a destruição de tudo, que gente maluca gosta de sonhar
Eu diria sonhar com você jaz nos espirituais sinais iniciais desta canção
Retirar tudo o que eu disse, reticenciar que eu juro
Censurar ninguém se atreve
É tão bom sonhar contigo, oh, luar tão cândido
Nos meus retiros espirituais, descubro certas coisas tão banais
Como ter problemas, ser o mesmo que não
Resolver tê-los é ter, resolver ignorá-los é ter
Você há de achar gozado ter que resolver de ambos os lados
De minha equação, que gente maluca tem que resolver
Eu diria o problema se reduz aos espirituais sinais iniciais desta canção
Retirar tudo o que eu disse, reticenciar que eu juro
Censurar ninguém se atreve
É tão bom sonhar contigo, oh, luar tão cândido
Como estar defronte de uma coisa e ficar
Horas a fio com ela, bárbara, bela, tela de TV
Você há de achar gozado Barbarela dita assim dessa maneira
Brincadeira sem nexo que gente maluca gosta de fazer
Eu diria mais tudo não passa dos espirituais sinais iniciais desta canção
Retirar tudo o que eu disse, reticenciar que eu juro
Censurar ninguém se atreve
É tão bom sonhar contigo, oh, luar tão cândido
Nos meus retiros espirituais descubro certas coisas anormais
Como alguns instantes vacilantes e só
Só com você e comigo, pouco faltando, devendo chegar
Um momento novo, vento devastando como um sonho
Sobre a destruição de tudo, que gente maluca gosta de sonhar
Eu diria sonhar com você jaz nos espirituais sinais iniciais desta canção
Retirar tudo o que eu disse, reticenciar que eu juro
Censurar ninguém se atreve
É tão bom sonhar contigo, oh, luar tão cândido
Nos meus retiros espirituais, descubro certas coisas tão banais
Como ter problemas, ser o mesmo que não
Resolver tê-los é ter, resolver ignorá-los é ter
Você há de achar gozado ter que resolver de ambos os lados
De minha equação, que gente maluca tem que resolver
Eu diria o problema se reduz aos espirituais sinais iniciais desta canção
Retirar tudo o que eu disse, reticenciar que eu juro
Censurar ninguém se atreve
É tão bom sonhar contigo, oh, luar tão cândido
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
Música na cabeça
Lá lá lá lá lauê
Fala Martim Cererê
Lá lá lá lá lauê
Fala Martim Cererê
Vem cá Brasil
Deixa eu ler a sua mão menino
Que grande destino
Reservaram pra você
Fala Martim Cererê
Lá lá lá lá lauê
Fala Martim Cererê
Lá lá lá lá lauê
Fala Martim Cererê
Tudo era dia
O índio deu a terra grande
O negro trouxe a noite na cor
O branco a galhardia
E todos traziam amor
Tinham encontro marcado
Pra fazer uma nação
E o Brasil cresceu tanto
Que virou interjeição
Lá lá lá lá lauê
Fala Martim Cererê
Lá lá lá lá lauê
Fala Martim Cererê
Gigante pra frente a evoluir
Laiá laiá
Milhões de gigantes a construir
Laiá laiá laiá
Gigante pra frente e a evoluir
Laiá laiá
Milhões de gigantes a construir
Vem cá Brasil
Deixa eu ler a sua mão menino
Que grande destino
Reservaram pra você
Fala Martim Cererê
Lá lá lá lá lauê
Fala Martim Cererê
Lá lá lá lá lauê
Fala Martim Cererê
Tudo era dia
O índio deu a terra grande
O negro trouxe a noite na cor
O branco a galhardia
E todos traziam amor
Tinham encontro marcado
Pra fazer uma nação
E o Brasil cresceu tanto
Que virou interjeição
Lá lá lá lá lauê
Fala Martim Cererê
Lá lá lá lá lauê
Fala Martim Cererê
Gigante pra frente a evoluir
Laiá laiá
Milhões de gigantes a construir
Laiá laiá laiá
Gigante pra frente e a evoluir
Laiá laiá
Milhões de gigantes a construir
Laiá laiá laiá
Gigante pra frente e a evoluir
Laiá laiá
Milhões de gigantes a construir
Laiá laiá laiá
Gigante pra frente e a evoluir
Laiá laiá
quarta-feira, 2 de setembro de 2009
MARCOS
1 | E Jesus entrou em Jerusalém, no templo, e, tendo visto tudo em redor, como fosse já tarde, saiu para Betânia com os doze. | |
12 | ¶ E, no dia seguinte, quando saíram de Betânia, teve fome. | |
13 | E, vendo de longe uma figueira que tinha folhas, foi ver se nela acharia alguma coisa; e, chegando a ela, não achou senão folhas, porque não era tempo de figos. | |
14 | E Jesus, falando, disse à figueira: Nunca mais coma alguém fruto de ti. E os seus discípulos ouviram isto. | |
15 | E vieram a Jerusalém; e Jesus, entrando no templo, começou a expulsar os que vendiam e compravam no templo; e derrubou as mesas dos cambiadores e as cadeiras dos que vendiam pombas. | |
16 | E não consentia que alguém levasse algum vaso pelo templo. | |
17 | E os ensinava, dizendo: Não está escrito: A minha casa será chamada, por todas as nações, casa de oração? Mas vós a tendes feito covil de ladrões. | |
18 | E os escribas e príncipes dos sacerdotes, tendo ouvido isto, buscavam ocasião para o matar; pois eles o temiam, porque toda a multidão estava admirada acerca da sua doutrina. | |
19 | E, sendo já tarde, saiu para fora da cidade. | |
20 | E eles, passando pela manhã, viram que a figueira se tinha secado desde as raízes. | |
21 | E Pedro, lembrando-se, disse-lhe: Mestre, eis que a figueira, que tu amaldiçoaste, se secou. | |
22 | E Jesus, respondendo, disse-lhes: Tende fé em Deus; | |
23 | Porque em verdade vos digo que qualquer que disser a este monte: Ergue-te e lança-te no mar, e não duvidar em seu coração, mas crer que se fará aquilo que diz, tudo o que disser lhe será feito. | |
24 | Por isso vos digo que todas as coisas que pedirdes, orando, crede receber, e tê-las-eis. | |
25 | E, quando estiverdes orando, perdoai, se tendes alguma coisa contra alguém, para que vosso Pai, que está nos céus, vos perdoe as vossas ofensas. | |
26 | Mas, se vós não perdoardes, também vosso Pai, que está nos céus, vos não perdoará as vossas ofensas. |
sexta-feira, 21 de agosto de 2009
O Escorpião e o Sapo
"Na margem de um rio estava, um dia, um sapo. Enquanto se preparava para cruzar as águas até a margem oposta, chegou um escorpião, que também queria atravessar para o outro lado. Mas escorpiões não nadam, então ele pediu ao sapo:
-Deixa-me subir subir nas tuas costas e transporta-me até a outra margem. És grande o suficiente e não te cansarás.
Mas o sapo, que bem conhecia o veneno do ferrão do escorpião, respondeu:
- Nas minhas costas? Estás louco! Tenho medo de teu veneno mortal!
E o escorpião:
- Estás equivocado em temer-me. Eu desejo atravessar o rio. É meu interesse que tu vivas.
Com tal raciocínio, o escorpião induziu o sapo a aceitar. Subiu, então, nas costas do sapo. O sapo entrou na água carregando o escorpião e começou a nadar, perfeitamente à vontade no seu meio natural. Assim que chegaram ao meio do rio, no ponto onde era mais forte a corrente e maior o esforço do sapo, eis que o escorpião levantou o rabo e enterrou o ferrão com toda força nas costas do sapo. Enquanto o veneno mortal se difundia em seu corpo, sentindo que a vida se esvaía, o sapo exclamou:
- Maldito desgraçado, que estás fazendo? Não vês que ambos morreremos: eu envenenado e tu afogado! Por que fizeste isso?
E o escorpião, já se afogando:
- Porque eu sou um escorpião e devo ferrar: esta é minha natureza.
E morreram.
-Deixa-me subir subir nas tuas costas e transporta-me até a outra margem. És grande o suficiente e não te cansarás.
Mas o sapo, que bem conhecia o veneno do ferrão do escorpião, respondeu:
- Nas minhas costas? Estás louco! Tenho medo de teu veneno mortal!
E o escorpião:
- Estás equivocado em temer-me. Eu desejo atravessar o rio. É meu interesse que tu vivas.
Com tal raciocínio, o escorpião induziu o sapo a aceitar. Subiu, então, nas costas do sapo. O sapo entrou na água carregando o escorpião e começou a nadar, perfeitamente à vontade no seu meio natural. Assim que chegaram ao meio do rio, no ponto onde era mais forte a corrente e maior o esforço do sapo, eis que o escorpião levantou o rabo e enterrou o ferrão com toda força nas costas do sapo. Enquanto o veneno mortal se difundia em seu corpo, sentindo que a vida se esvaía, o sapo exclamou:
- Maldito desgraçado, que estás fazendo? Não vês que ambos morreremos: eu envenenado e tu afogado! Por que fizeste isso?
E o escorpião, já se afogando:
- Porque eu sou um escorpião e devo ferrar: esta é minha natureza.
E morreram.
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
Surfe no céu
Protegida da ventania que varre Botafogo nesta manhã quase especial, aprendo com os pássaros que driblam a devastadora força do ar. Um gavião seguia rápido em voo direto até pegar de jeito o vento na proa. Instintivo, parou de bater asas, pendeu para um lado e surfou no céu divinamente em sentido contrário ao que ia.
Se há problemas insolúveis, mais fortes do que podemos segurar, é para parar de se debater. Temos instinto também, sabemos exatamente a forma de chegar ao que queremos, quando avançar e quando recuar. Muitas vezes arriscamos, temos pressa, inovamos. É bom a adrenalina da tentativa de superação. Só não podemos maldizer se der errado.
Eu fico sempre com Paulo Mendes Campos: Se tiveres de ir a algum lugar, não te preocupe a vaidade fatigante de ser a primeira a chegar. Se chegares sempre aonde quiseres, ganhaste.
Se há problemas insolúveis, mais fortes do que podemos segurar, é para parar de se debater. Temos instinto também, sabemos exatamente a forma de chegar ao que queremos, quando avançar e quando recuar. Muitas vezes arriscamos, temos pressa, inovamos. É bom a adrenalina da tentativa de superação. Só não podemos maldizer se der errado.
Eu fico sempre com Paulo Mendes Campos: Se tiveres de ir a algum lugar, não te preocupe a vaidade fatigante de ser a primeira a chegar. Se chegares sempre aonde quiseres, ganhaste.
segunda-feira, 10 de agosto de 2009
quarta-feira, 27 de maio de 2009
Pequenas Epifanias
Há alguns dias, Deus - ou isso que chamamos assim, tão descuidadamente, de Deus - enviou-me certo presente ambíguo: uma possibilidade de amor. Ou disso que chamamos, também com descuido e alguma pressa, de amor. E você sabe a que me refiro. Antes que pudesse me assustar e, depois do susto, hesitar entre ir ou não ir, querer ou não querer - eu já estava lá dentro. E estar dentro daquilo era bom. Não me entenda mal - não aconteceu qualquer intimidade dessas que você certamente imagina. Na verdade, não aconteceu quase nada. Dois ou três almoços, uns silêncios. Fragmentos disso que chamamos, com aquele mesmo descuido, de "minha vida". Outros fragmentos, daquela "outra vida". De repente cruzadas ali, por puro mistério, sobre as toalhas brancas e os copos de vinho ou água, entre casquinhas de pão e cinzeiros cheios que os garçons rapidamente esvaziavam para que nos sentíssemos limpos. E nos sentíamos.
Por trás do que acontecia, eu redescobria magias sem susto algum. E de repente me sentia protegido, você sabe como: a vida toda, esses pedacinhos desconexos, se armavam de outro jeito, fazendo sentido. Nada de mau me aconteceria, tinha certeza, enquanto estivesse dentro do campo magnético daquela outra pessoa. Os olhos da outra pessoa me olhavam e me reconheciam como outra pessoa, e suavemente faziam perguntas, investigavam terrenos: ah você não come açúcar, ah você não bebe uísque, ah você é do signo de Libra. Traçando esboços, os dois. Tateando traços difusos, vagas promessas.
Nunca mais sair do centro daquele espaço para as duras ruas anônimas. Nunca mais sair daquele colo quente que é ter uma face para outra pessoa que também tem uma face para você, no meio da tralha desimportante e sem rosto de cada dia atravancando o coração. Mas no quarto, quinto dia, um trecho obsessivo do conto de Clarice Lispector - Tentação - na cabeça estonteada de encanto: "Mas ambos estavam comprometidos. Ele, com sua natureza aprisionada. Ela, com sua infância impossível". Cito de memória, não sei se correto. Fala no encontro de uma menina ruiva, sentada num degrau às três da tarde, com um cão basset também ruivo, que passa acorrentado. Ele pára. Os dois se olhos. Cintilam, prometidos. A dona o puxa. Ele se vai. E nada acontece.De mais a mais, eu não queria. Seria preciso forjar climas, insinuar convites, servir vinhos, acender velas, fazer caras. Para talvez ouvir não. A não ser que soprasse tanto vento que velejasse por si. Não velejou. Além disso, sem perceber, eu estava dentro da aprendizagem solitária do não-pedir. Só compreendi dias depois, quando um amigo me falou - descuidado também - em pequenas epifanias - Miudinhas, quase pífias revelações de Deus feito jóias encravadas no dia-a-dia.
Era isso - aquela outra vida, inesperadamente misturada à minha, olhando a minha opaca vida com os mesmos olhos atentos com que eu a olhava: uma pequena epifania. Em seguida vieram o tempo, a distância, a poeira soprando. Mas eu trouxe de lá a memória de qualquer coisa macia que tem me alimentado nestes dias seguintes de ausência e fome. Sobretudo à noite, aos domingos. Recuperei um jeito de fumar olhando para trás das janelas, vendo o que ninguém veria.
Atrás das janelas, retomo esse momento de mel e sangue que Deus colocou tão rápido, e com tanta delicadeza, frente aos meus olhos há tanto tempo incapazes de ver: uma possibilidade de amor. Curvo a cabeça, agradecido. E se estendo a mão, no meio da poeira de dentro de mim, posso tocar também em outra coisa. Essa pequena epifania. Com corpo e face. Que reponho devagar, traço a traço, quando estou só e tenho medo. Sorrio, então. E quase paro de sentir fome.
Caio Fernando Abreu
Por trás do que acontecia, eu redescobria magias sem susto algum. E de repente me sentia protegido, você sabe como: a vida toda, esses pedacinhos desconexos, se armavam de outro jeito, fazendo sentido. Nada de mau me aconteceria, tinha certeza, enquanto estivesse dentro do campo magnético daquela outra pessoa. Os olhos da outra pessoa me olhavam e me reconheciam como outra pessoa, e suavemente faziam perguntas, investigavam terrenos: ah você não come açúcar, ah você não bebe uísque, ah você é do signo de Libra. Traçando esboços, os dois. Tateando traços difusos, vagas promessas.
Nunca mais sair do centro daquele espaço para as duras ruas anônimas. Nunca mais sair daquele colo quente que é ter uma face para outra pessoa que também tem uma face para você, no meio da tralha desimportante e sem rosto de cada dia atravancando o coração. Mas no quarto, quinto dia, um trecho obsessivo do conto de Clarice Lispector - Tentação - na cabeça estonteada de encanto: "Mas ambos estavam comprometidos. Ele, com sua natureza aprisionada. Ela, com sua infância impossível". Cito de memória, não sei se correto. Fala no encontro de uma menina ruiva, sentada num degrau às três da tarde, com um cão basset também ruivo, que passa acorrentado. Ele pára. Os dois se olhos. Cintilam, prometidos. A dona o puxa. Ele se vai. E nada acontece.De mais a mais, eu não queria. Seria preciso forjar climas, insinuar convites, servir vinhos, acender velas, fazer caras. Para talvez ouvir não. A não ser que soprasse tanto vento que velejasse por si. Não velejou. Além disso, sem perceber, eu estava dentro da aprendizagem solitária do não-pedir. Só compreendi dias depois, quando um amigo me falou - descuidado também - em pequenas epifanias - Miudinhas, quase pífias revelações de Deus feito jóias encravadas no dia-a-dia.
Era isso - aquela outra vida, inesperadamente misturada à minha, olhando a minha opaca vida com os mesmos olhos atentos com que eu a olhava: uma pequena epifania. Em seguida vieram o tempo, a distância, a poeira soprando. Mas eu trouxe de lá a memória de qualquer coisa macia que tem me alimentado nestes dias seguintes de ausência e fome. Sobretudo à noite, aos domingos. Recuperei um jeito de fumar olhando para trás das janelas, vendo o que ninguém veria.
Atrás das janelas, retomo esse momento de mel e sangue que Deus colocou tão rápido, e com tanta delicadeza, frente aos meus olhos há tanto tempo incapazes de ver: uma possibilidade de amor. Curvo a cabeça, agradecido. E se estendo a mão, no meio da poeira de dentro de mim, posso tocar também em outra coisa. Essa pequena epifania. Com corpo e face. Que reponho devagar, traço a traço, quando estou só e tenho medo. Sorrio, então. E quase paro de sentir fome.
Caio Fernando Abreu
segunda-feira, 11 de maio de 2009
segunda-feira, 4 de maio de 2009
quarta-feira, 29 de abril de 2009
sexta-feira, 24 de abril de 2009
quarta-feira, 22 de abril de 2009
Pra São Jorge (Zeca Pagodinho)
Vou acender velas para São Jorge
A ele eu quero agradecer
E vou plantar comigo-ninguém-pode
Para que o mal não possa então vencer
Olho grande em mim não pega
Não pega não
Não pega em quem tem fé
No coração
Ogum com sua espada
Sua capa encarnada
Me dá sempre proteção
Quem vai pela boa estrada
No fim dessa caminhada
Encontra em Deus perdão
A ele eu quero agradecer
E vou plantar comigo-ninguém-pode
Para que o mal não possa então vencer
Olho grande em mim não pega
Não pega não
Não pega em quem tem fé
No coração
Ogum com sua espada
Sua capa encarnada
Me dá sempre proteção
Quem vai pela boa estrada
No fim dessa caminhada
Encontra em Deus perdão
Louise Bogan
Men Loved Wholly Beyond Wisdon
Men loved wholly beyond wisdom
Have the staff without the banner.
Like a fire in a dry thicket
Rising within women's eyes
Is the love men must return.
Heart, so subtle now, and trembling,
What a marvel to be wise.
To love never in this manner!
To be quiet in the fern
Like a thing gone dead and still,
Listening to the prisoned cricket
Shake its terrible dissembling
Music in the granite hill.
Men loved wholly beyond wisdom
Have the staff without the banner.
Like a fire in a dry thicket
Rising within women's eyes
Is the love men must return.
Heart, so subtle now, and trembling,
What a marvel to be wise.
To love never in this manner!
To be quiet in the fern
Like a thing gone dead and still,
Listening to the prisoned cricket
Shake its terrible dissembling
Music in the granite hill.
segunda-feira, 20 de abril de 2009
sexta-feira, 17 de abril de 2009
A pequena morte
Pequena morte, chamam na França, a culminação do abraço, que ao quebrar-nos faz por juntar-nos, e perdendo-nos faz por nos encontrar e acabando conosco nos principia. Pequena morte, dizem; mas grande, muito grande haverá de ser, se ao nos matar nos nasce. (Eduardo Galeano)
quinta-feira, 16 de abril de 2009
quarta-feira, 15 de abril de 2009
Big Time
Gonna leave the pain behind
Gonna leave the fools in line
Gonna take the magic potion
Gettin' in an old black car
Gonna take a ride so far
To the land of sun tan lotion
Gonna take it state by state
Til I hit the golden gate
Get my feet wet in the ocean
I'm still living the dream we had,
For me it's not over
I'm still living the dream we had,
For me it's not over
Walkin on the bridge one day
Lookin out across the bay
I saw a rippling in the water
Once a big ship had passed
I borrowed a traveller's glass
And focused on the ocean's daughter
Kind of like a wave confused
Dancing in the sunset hues
She waved to me and called me over
I'm still living the dream we had,
For me it's not over
I'm still living the dream we had,
For me it's not over
Talkin' 'bout a friend of mine
Talkin' 'bout a gold mine
Richest vein in any mountain
Talkin' 'bout the enemy
Inside of me
Talkin' 'bout that youthful fountain
Talkin' 'bout you and me
Talkin' 'bout eternity
Talkin' 'bout the big time
I'm still living the dream we had,
For me it's not over
I'm still living the dream we had,
For me it's not over
segunda-feira, 13 de abril de 2009
domingo, 12 de abril de 2009
Fraqueza de homens e santos
Mateus 26:34 Replicou-lhe Jesus: Em verdade te digo que, nesta mesma noite, antes que o galo cante, tu me negarás três vezes.
Mateus 26:74 Então, começou ele a praguejar e a jurar: Não conheço esse homem! E imediatamente cantou o galo.
Mateus 26:75 Então, Pedro se lembrou da palavra que Jesus lhe dissera: Antes que o galo cante, tu me negarás três vezes. E, saindo dali, chorou amargamente.
Mateus 26:74 Então, começou ele a praguejar e a jurar: Não conheço esse homem! E imediatamente cantou o galo.
Mateus 26:75 Então, Pedro se lembrou da palavra que Jesus lhe dissera: Antes que o galo cante, tu me negarás três vezes. E, saindo dali, chorou amargamente.
quinta-feira, 9 de abril de 2009
Momento Serviço
Recebi da minha amiga Denise e adorei.
As primeiras páginas dos jornais de hoje em todo o mundo. Na parte superior da página ampliada está o link para acessar o jornal!
http://www.newseum.org:80/todaysfrontpages/flash/
As primeiras páginas dos jornais de hoje em todo o mundo. Na parte superior da página ampliada está o link para acessar o jornal!
http://www.newseum.org:80/todaysfrontpages/flash/
Depois do encontro com o Fiúza...
SUICÍDIO
(Bussunda, Marconi, Henrique e João)
Todo mundo que se suicida se dá mal
Qualé de se jogar nos trilhos do metrô da Central
É bem melhor viver oitenta e dois anos e morar com os índios
Quem sabe cê ganha na Loto
Seu time faz aquela contratação
Pendure sua chuteira mas deixe o seu pescoço em paz
Não conheço ninguém que se suicidou e se deu bem
Não conheço ninguém que se suicidou e se deu bem
Não pule desse trem
Vai que um anjo está passando e estraga a sua festa
E você fica aleijado com um arranhão na testa
(Bussunda, Marconi, Henrique e João)
Todo mundo que se suicida se dá mal
Qualé de se jogar nos trilhos do metrô da Central
É bem melhor viver oitenta e dois anos e morar com os índios
Quem sabe cê ganha na Loto
Seu time faz aquela contratação
Pendure sua chuteira mas deixe o seu pescoço em paz
Não conheço ninguém que se suicidou e se deu bem
Não conheço ninguém que se suicidou e se deu bem
Não pule desse trem
Vai que um anjo está passando e estraga a sua festa
E você fica aleijado com um arranhão na testa
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