sábado, 5 de abril de 2008

Dois Vítor e um Hoffmann



Vítor Araújo relê Paranoid Android do Radiohead, de quem é fã - "ouço tanto quanto ouço Chico Buarque" -, dividindo a música em quatro interpretações: sua, de Chopin, de Bach e do próprio Radiohead. A música para ele está na vida, ou a vida está na música. O silêncio é música. Pernambucano. Torcedor do Náutico doente. Boquirroto. Fofo. Articulado. Enaltece Villa-Lobos, fazendo-nos chorar com a Valsa da Dor. "Percebam como a dor atravessa mais de 40 anos e é sentida até hoje como dor", diz com apenas 18 anos de vida, dos quais 9 pratica piano.

O outro Vítor poderia ser pai deste, com o qual sairia para "pegar" nos Bailinhos da vida. Briga contra o tempo com seus generosos olhos verdes. Inaciano, quase padreco, já estudou teologia. Desistiu. Esqueceu a fé pelas esquinas. Arremeteu-se para a filosofia - adora Nietzsche, quer exercitar o cérebro e passar as horas. Não diz de jeito nenhum a idade e ensaia um biquinho de criança quando questionado. Sabe que o "inverno no Leblon é quase glacial", por isso gosta de abraços quentes sobre a Academia da Cachaça.

Hoffmann foi uma surpresa. Lembro-me das lágrimas derramadas por me sentir incompetente na sua presença. Editor que cobrava mais do que sabia. E às vezes dava a impressão de não saber o que exatamente queria. Detonou em mim uma duodenite aos 23 anos. Mas o inferno virou céu. Agradeço-o por batalhar por mim para eu estudar na Espanha sem perder meu emprego. Veio ao meu encontro no bar, após 12 anos sem encontros. "Ana Silvia! Que bom vê-la bem. Se lembra de mim?". Minha memória apagada pegou no tranco. Bom vê-lo também, Hoffmann, meu professor de tolerância.

Semana marcada por três personagens masculinos distintos. Os homens são muito interessantes.

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