Ele parecia o modelo de Portinari para pintar O Lavrador de Café. Os pés no chinelo velhíssimo eram enormes, desproporcionais. Quando olhei, vi que rezava com fervor diante de um quadro de Santo Antônio. Ele percebeu. Virou-se para mim e me mostrou o braço machucado. "Toma, moça", disse, entregando-me um santinho de São Judas Tadeu. Logo o meu "seu Judas", poderoso com os rubro-negros e com os que querem soluções para casos impossíveis. "Reza por mim, que tô fazendo hemodiálise. Ajuda teu irmão que Deus vai te ajudar"", disse triste. Naquele momento, naquele convento, a frase ecoou. E rebateu no coração. Haviam acabado de me negar a mão, eu estava com febre, nauseada, insone, uma zumbi sem mato. Ajuda teu irmão. Abracei aquele irmão em pensamento, solidária na miséria, igual no abandono, enquanto o via se afastar, seguido por uma mosca, para se postar diante da cruz.
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008
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2 comentários:
Deus está ajudando, deusa?
Deixa eu consolar.
Alguma coisa acontece por aqui...
Deusa?
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