sábado, 3 de novembro de 2007

Travequinha amada

Querida Cris (como Querido Diário),
sei que você não é espiritualista nem esotérica, mas tampouco veste o fardão do materialismo científico, o que lhe faz ter uma posição pertinente a respeito de fatos bobos desse nosso cotidiano que ora conto, ora guardo na preguiça amiga.
Hoje pensei muito em você, nas suas opiniões e na sua risada com o que vou narrar. Estou de plantão, leia-se trancafiada dentro de casa, vendo sites, escarafunchando jornais, cuidando de uma boa cobertura para o nascimento do segundo filho da Angélica - não se compadeça nem gaste sua verve falando do sistema capitalista que nos suga e destrói nossos sonhos, daqui a pouco vou ver os queridos na casa do Gláuber e isso me basta.
Bom, a rotina do plantão manda acordar cedo para comprar os jornais. Acordei quase que mais cedo que os jornaleiros e fiquei perambulando por Botafogo à espera de uma banca aberta com os jornais do Rio e de SP. Aproveitei para caminhar na praia e dei ainda um pulo na igreja, porque gosto de falar com as imagens. Segurei na mão de um lindo Cristo e saí de lá com aquele dom de "ver" em que você não acredita.
Na volta para a banca, carros estacionados, telefones celulares tocando sem parar, tumulto nas ruas à minha frente às sete e meia da manhã. Fiquei zonza. Tentei respirar, mas tiraram meu ar. Quis me escorar, mas não havia paredes nem chão. Pô, Silvona amiga, você diria, fumar um beque antes do café dá nisso, rapá. Não, sem beques, tô limpa. Flutuei na volta para casa, meninos, famílias inteiras ainda dormiam na calçada. Um garoto cheirava cola, olhou para o alto e me viu. Esticou a mão da garrafa com a droga dentro na minha direção, uma oferenda para mim. Tudo em câmera lenta. Torci muito para chegar logo em casa, eu chorava, e a casa chegou a mim. Mas o que você viu, mulher de Deus?, perguntaria a amiga escritora. Na verdade, nada e tudo. Nada do que eu não sabia e tudo que eu escondia do meu coração. Esse mundo dá pena, Cris, e eu estou cansada de lutar com os seus burgas, amiga.

5 comentários:

Cristiana Soares disse...

Essa Cris deve ser mesmo uma figura! Quero conhecê-la!

Tempos atrás, tive uma experiência muito parecida com essa... entrei no Shopping Iguatemi num dia de semana por volta das 17h... na saída, ao chegar à rua, senti um baque no peito. A realidade de fora chocava-se como uma pororoca com a realidade de dentro... e a gente no meio desse encontro violento de águas... é de matar...

Guta Nascimento disse...

... eu também quero conhecer essa cris travequinha ...
... ainda bem que existe o diário antienlouquecimento ...
... saudades ...
... beijos ...

Ana Silvia Mineiro disse...

Cris! Guta!
ô meu deus, isso é presente para a alma.
encontrinho em São Paulo rapidamente?
Longe do Iguatemi, depois que vi as fotos lá de umas mulheres dentro de jaulas dizendo que era protesto contra a cruelade com os animais. Para mim, parecia mais que se penitenciavam por não conseguir resistir àquela Babilônia do consumo.
beijos

Guta Nascimento disse...

... sim, encontrinho ...
... venha ...
... quando quiser, como quiser, a hora em que quiser ...
... traga as crianças ...
... vou adorar ...
... bjs ...

Cristiana Soares disse...

Encontrinho! Encontrinho! Encontrinho!