Paralisado, sem poder trabalhar, sem conseguir viver, ele ligou para a amante. Brincou em palavras, não tinha graça. Fechou o sorriso, a boca, o coração. Tentou dormir, e a sensacao que tinha tido dias antes, de angústia e medo, se intensificou. Tremeu como vara verde. Apelou para um remédio, mas às quatro acordou sem entender onde estava. Foi ao banheiro – sua reação ao nervosismo exacerbado – e se pôs a vomitar sem ter comido direito há dias, nada, dois bocados aqui e ali, nem almoço nem jantar. Precisava estar só e não podia. Sempre pessoas.
Começou a questionar tudo à sua volta. Estava apaixonado, e não tinha a menor capacidade emocional e física para bancar esse sentimento. Esperou o sol ir alto. O café da manhã em família era sem alma. Desmarcou a análise. Queria ver a outra, muito, muito. Faltava o ar como se estivessem apertando seu pescoço. Tentou andar pela casa e respirar fundo.
Telefonou novamente para a amante e desligou, antes que ela atendesse. Saiu de casa para vagar, tentar espantar a tristeza com o ruído dos passos. Parou na metade do caminho. Novamente os vômitos. Só pensava nela. Ela. Queria falar com ela.
Voltou e caiu duro na cama a olhar o teto, corpo coberto pelo edredon. Trinta e cinco graus lá fora. A voz dela era necessária, mas ali não dava. Deus, como queria a normalidade, nada é normal. Poderia ter sido, mas aconteceu esse amor entre eles e tudo ficou de pernas paro o ar.
Acordou já ao escurecer e resolveu sair de novo. Péssima idéia. O corpo não resistiu e ele retornou cambaleando. A esperança de vê-la não o abandonava. Foi ao prédio dela, interfonou, ninguém respondeu. Tentou o orelhão. "Alô", ela disse. Suas cores voltaram. Era ela, meus deuses. "Posso subir?". "Claro, venha". Abraçou-a sem dizer nada. Choraram juntos. Ela percebeu que ele morria. Deixou sangrar sem um beijo. "O que fazemos com essa paixão?", ele perguntou. Ela balançou a cabeça. Suspirou com ele, e morreram juntos, antes que ele voltasse para casa.
domingo, 29 de março de 2009
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